Cantigas de Amigo

Publicado por Luso-Poemas em 22-Jan-2024 21:30 (794 leituras)

Parabéns a todos os participantes! Tivemos, neste evento, textos muito criativos, que constituem a prova – como se isso fosse necessário! – de que no Luso-Poemas temos autores de grande qualidade.

Os poemas mais votados foram os seguintes:


A Infinita Espera, de agniceu – 1º lugar

Nascem raízes entre rochas e marés,
Flores de cara lavada pela salobra vaga.
Nascem na praia do peito amarras,
Que seguram meu triste coração.

Ai meu amigo, mesmo assim ainda te espero,
Com a saia molhada e o sentimento ao vento.

Nascem rochas bravas na face
Que estacam a ameigada vontade,
Das tuas vindas em vão,
Das tuas promessas falsas,

Ai meu amigo, mesmo assim ainda te espero,
Com a saia rodada e o sentimento ao relento.

Nascem nestes antigos rochedos,
Versos largados na leda espuma,
Marcas de mágoa atracadas na alma,
Pela demora demorada da tua chegada.

Ai meu amigo, mesmo assim ainda te espero,
Com a saia retalhada e o sentimento ao destoo


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Cantiga d’amigo, de Paulo-Galvão – 2º lugar

oh, escarpa, escutaste
que eco ouviste?
foi aquele grito,
nefasto, aflito,
daquele que digo
ser meu amigo.
que em saudades estou
que já morta vou.

oh, ravina, ouviste
o eco danado
do meu amado,
quando a vaga
de espuma galga
a falésia triste?
que já morta sou
que em saudades vou.

trouxeste recado
de meu amado
o que ouviste passar
na silente maresia,
na salgada falésia,
e ficou no mar.
que em saudades estou
que já morta sou.


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Sei, de AliceMaya – 3º lugar (ex aequo)

sei
que quando te aperto nos braços
e um cacho de sangue me invade
um excesso me acomete
uma intensidade tal
que me faz vendar os olhos
cerrar os dentes,
o sonho é vida

sei
que quando te oiço a voz livre
as células do meu corpo se agitam
em festa
os dedos da minha mão relaxam
o meu coração exalta
um santo canta
uma harpa ao longe,
e a música expande-se

sei
quando te vejo sorrir
que a tua vida é a minha
que o sol é a Estrela Polar
que o mar é da cor das laranjas
e o areal não tem fim

sei
que estás aí
que te tenho
que te posso beber

sei
que um dia
o céu se abrirá
e dele cairão garfos de fogo
para comer ardendo a minha agonia
para ferver a minha carne sufocada

sei
mas não acredito


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Porque te Canto, de Alemtagus - 3º lugar (ex aequo)

Como me choro se te canto
E se te tenho só aqui assim
Entre as duas mãos abertas
Como te abraço num pranto
Neste mar que não tem fim
Navegado de palavras certas

Quisera a Lua ter tal beleza
Desses tão lindos olhos teus
Deitados sós por aqui, por aí
Quisera eu não ter a tristeza
Dos sonhos serem só meus
Por sentir que louco te traí


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Vamos agora revelar os autores dos restantes poemas que participaram neste evento:

Cantigas de amigo, de Quandoachuvacai

Que donzela tão bonita, está de vestido real!
Toda ela é a musa que irradia o seu olhar!
E a alma que anseia lhe cantar com essência floral!
Tudo nela lhe faz poesia de amar!

A vida debica os tesouros dos mares!
As flores voam aformoseando os ares!
Soprando a magia as flores fazem-se borboletas!
E voando as flores vão sugando os aromas violetas!

Trilha e leva-a a sorrir em pensamento,
A um campo repleto de cores intensas,
As flores do campo são semeadas pelo vento!
Fazendo do sentir intensamente suculento!
Pinta as suas almas tão lindas e imensas!

Traz a como um trago de existência!
o amor é mágico e sente-se no ar!
Traz a para sentir muito mais esse amar,
E diz baixinho ao vento para lhe soprar uma carícia!

Tenta que cada palavra a possa tocar!
Então que a toque e entre em sua alma bem suavemente,
Como uma pena e seja intenso como o seu amar!
Que cada célula de jasmim seja para rosa o seu sonhar,
Como este sonho de cada célula dela é para jasmim.

Traz a em cada olhar como a lua a fazer reflexo no mar.
Traz a na alma para todo o sempre amar;
Sente que quando o vento cruzar a moça,
lhe dará um beijo doce e secreto em sua boca

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teu nome não justificado, de HorrorisCausa

Meu amigo, meu amado
és tudo o vejo e digo
misturado contigo
sou parte que não sei se sou.

És lonjura que aperta o peito
nome sem ser perfeito
saudade sem jeito
a cada beijo mar desfeito

Poema que me trazes prenha
não estranho o que entranho
quando corre sangue tamanho
nos meus "ais" que deus os tenha

Meu amante, meu amigo de perdição
na génese que amo tanto
quero-te sempre canção
podemos ser tu ou eu
a mesma memória,
enquanto escorre o mesmo encanto
orgasmos sem di.ereção
glória nossa vontade libertada

Fazer poemas
Escrever amor

Com o sangue primordial

da artéria do céu
Tua casa caiada

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Permaneço intemporal, de Liliana Jardim

No vitral transparente do pensamento
onde as chamas delineiam corpos
contorno a macieza orvalhada dos lábios
beijo o ar que me sufoca .. febril
levito na impetuosidade que me consome
perdida no regaço de umas mãos tremulas
e dentro dos sonhos inquietos
permaneço intemporal

Tranco no meu peito
esta vontade louca de te tocar
eterno desejo que se esconde
no vão do tempo
e no timbre aguçado do olhar
liberto todas as silabas caladas
sussurrando num sopro
de uns lábios trémulos

Enquanto o meu coração existir
eu sempre vou gostar de ti

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A dois..., de Maryjun

Hoje,
como todas às manhãs...
Sou despertada
por meu amor
com uma bandeja de café.
Acompanha:
torradas, suco, maçã,
uma flor colhida
do nosso jardim.
É, tanto carinho
que deixamos
Tudo de lado
e namoramos
Ternos de amor
e paixão é um festim!
Eu sou a rosa do seu jardim
e ele o meu jardineiro,
companheiro,
amante amigo!

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Acorda na busca do céu, de GabrielaMaria

Acorda na busca do céu
As nuvens lembra seus passos
Tudo tem pedaço seu
Livre são teus compassos

Buscando sua presença
Com todos os dias
O vento traz a bença
Revivendo diamantes

São segredos seus e teus
Repete todos os dias
A sua voz busca zeus
Recita com melodias

Ali busca no momento
Na vida de magia
Esperando pelo vento
Razão de alegria


Caros Luso-Poetas: esperamos poder contar com a vossa colaboração noutras atividades que pretendemos realizar no nosso site. Estejam atentos aos destaques e até breve!



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REGULAMENTO

Apresentação do evento:
A denominação deste evento é uma homenagem aos primórdios da literatura Lusa, quando os trovadores medievais compunham cantigas para os serões da corte, em que descreviam a vida emocional das donzelas, seduzidas pelo seu amado (designado como "amigo") que se encontrava distante.
Inspirada nesta recordação literária, a Administração do Luso-Poemas pensou num desafio que irá colocar à prova a intensidade dos sentimentos e a criatividade dos utilizadores deste site.
O objetivo deste evento é, precisamente, que sejam elaborados textos de poesia ou de prosa poética sobre o tema do Amor. Os trabalhos serão apresentados no site de forma anónima e, posteriormente, sujeitos a votação.

Fases/calendarização:
. Envio dos textos – 22 de janeiro a 4 de fevereiro
. Divulgação dos textos e votação – 5 a 13 de fevereiro
. Publicação de resultados – 14 de fevereiro

Inscrição:
. Para poder participar, basta estar inscrito no site Luso-Poemas.
. Cada utilizador apenas poderá enviar um texto para participação no evento.
. O envio do texto é feito por mensagem privada para o utilizador Luso-Poemas ('Administrador').

Divulgação dos textos:
. Será criada uma entrada no site com todos os textos enviados, sem qualquer referência ao nome do seu autor.
. A cada texto, será atribuído um número, que o irá representar na altura da votação.

Votação:
. Cabe a cada utilizador votar nos seus poemas favoritos, enviando uma mensagem privada ao utilizador Luso-Poetas ('Administrador').
. Nessa mensagem, terá de assinalar os 9 poemas, através do respetivo número, e a pontuação entre 9 e 1. Dará a pontuação de 9 ao favorito e assim por ordem decrescente até ao menos favorito. Têm de ser escolhidos obrigatoriamente os 9 poemas, nem mais nem menos, caso contrário, a votação não será considerada.
. Se na lista de poemas e respetivos pontos, houver repetições, a pontuação também não será considerada.

Publicação de resultados:
. Os três poemas com pontuação mais alta serão publicados em local de destaque no site Luso-Poemas.
. Os autores dos poemas mais votados serão convidados para estarem presentes no podcast 'Café com Versos'.

Outros aspetos:
. A Administração do Luso-Poemas reserva-se o direito de eliminar os textos do evento se a sua autoria for (ou estiver) explicitada no espaço do Luso-Poemas antes do dia 14 de Fevereiro.
. Todas as situações não previstas neste regulamento serão analisadas caso a caso e decididas pela Administração do Luso-Poemas.


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Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 14/02/2024 20:58  Atualizado: 14/02/2024 20:58
Membro de honra
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3101
 Re: Cantigas de Amigo
A tristeza de ver apenas 9 textos num evento deste género, merecedor de ser enaltecido, deve-se à quantidade de escritores (que se achem bons ou maus, não interessa) que fazem deles a sua casa. Deixo aqui o louvor aos que arriscaram escrever e aos que arriscaram fazer, aos restantes... que ganhem a coragem de agir.


Enviado por Tópico
agniceu
Publicado: 15/02/2024 08:45  Atualizado: 15/02/2024 08:45
Colaborador
Usuário desde: 08/07/2010
Localidade:
Mensagens: 568
 Re: Cantigas de Amigo
Concordo com tudo o que foi dito, foi uma pena só terem concorrido 9 textos. De certa forma, o tema do concurso “Cantigas de Amigo” era um tema difícil. Tenho uma amiga que não participou por isso mesmo, não sabendo o que esperariam, sendo os textos medievais difíceis.

Acho que o importante deste evento era homenagear a época inicial da literatura, onde as cantigas eram cantadas pelos trovadores nas cortes em nome das saudosas donzelas (esta forma arcaica de tratar as mulheres, faz lembrar-me o Cante Alentejano só cantado por homens). O que nos pediam era o mínimo, participar, e decerto medida ir buscar a essência daquela época. O resultado é o que menos interessa, apesar de achar que o primeiro lugar está errado, deveria estar em último.

Se fizéssemos este exercício, cantar todos os poemas, como faziam antigamente, todos os textos soariam melhor que o primeiro, especialmente o da Ana (Quandoachuvacai) e se for declamado pela sua voz, ganha uma dimensão extraordinária.

Também os outros textos seriam dignos de estarem no topo. Não poderia deixar de agradecer, à Gabriela Maria pelo seu texto “Acorda na busca do céu”, de uma sonoridade leve, angelical, uma poetisa muito generosa que nos traz, diariamente, textos emotivos e espirituais aqui no Luso.

Deixar a minha admiração profunda à poetisa de excelência Maryjun, pelo seu texto intimissimamente delicioso, - “A dois...”.

Agradecer de igual forma a uma das maiores e mais estimadas poetizas, Liliana Jardim, pelo seu saudoso e extraordinário texto – “Permaneço intemporal”, um texto de tirar o fôlego do olhar por ser tão belo.

Deixar a minha gratidão à poetiza Maria (HorrorisCausa), por tudo o que tem feito em nome do Luso e pelo seu sublime encantador texto - “Teu nome não justificado”, um poema único com sal e fogo e muito amor.

Gratular também aos outros três, que são merecedores de todos os elogios, e pura admiração, ao inaudito Poeta Paulo Galvão pelo seu texto, “Cantiga d’amigo”, à nossa recém-chegada, trazendo consigo uma escrita mágica e absorvente, AliceMaya pelo seu brilhante texto – “Sei” e ao meu conterrâneo e grande poeta, Fernando (Alemtagus) - “Porque te Canto”, um texto que nos cala, pela sua primazia da escrita.

Acredito, se fosse outro tema, com outro tipo de incentivos, haveria mais poetas a participar, aqueles grandes poetas que nos maravilham aqui neste lugar chamado Luso.

Quero agradecer a todos que participaram.

Lembrem-se, o Luso não pode ser a árvore que murcha mas sim a árvore que dá frutos. Vamos lá adubá-la com poesia da nossa Alma.


Obrigado

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