CANTO PARA MIGUEL TORGA, O POETA DA LIBERDADE (republicação)

Fantástico ler aqui esta homenagem ao meu poeta preferido! Uma autêntica biografia poética! Gostei imenso! Deixo-lhe duas frases escritas por ele próprio num papel amarelo que a filha publicou na sua Fotobiografia:

«Se pudesse recomeçar a vida gostaria de ser mais poeta ainda.»

«A arte para ele não é uma ambição: é um destino.»

Parabéns e obrigada por este momento poético!

Beijinho

"Três vezes uma onda alta, num arranco de fim, lambeu as garras do corvo, mas três vezes recuou. A cada vaga, o coração frágil da Arca, dependente do coração resoluto de Vicente, estremeceu de terror. A morte temia a morte.
Mas (...) se tornou evidente que o Senhor ia ceder. (...) nada podia contra aquela vontade inabalável de ser livre.
Que, para salvar a sua própria obra, fechava, melancolicamente, as comportas do céu.”

os bichos,miguel torga

um beijo,julio
alex

Depois do Fernando Pessoa,
é indiscutivelmente o Miguel Torga
quem mais aprecio como Poeta.
A sua genialidade roça muita vez
a própria sensibilidade da sua poesia,
tocante, apaixonante e inigualável.
Bela homenagem Júlio que assinalo, se me permites com um dos belos poemas dele.
Abraço fraterno,

Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
(Miguel Torga)

Camarada,

É quase uma epístola este teu poema, uma epítola a um qualquer distraído leitor de poesia que não conheça este poeta, que eu tive o grato privilégio de conhecer pessoalmente.

Curiosamente, era uma poeta de quem não gostava e só os quase quarenta me trouxe de volta num dia em que me achei pachorrento e, olhando para a estante, vi um "tijolo" adquirido para os meus filhos. Li essas quase mil páginas em escasso tempo.

É caso para dizer: isto da idade é terrível, ou talvez não.

Um abraço

Xavier Zarco

adolfo correia rocha. nascido no monte, por cima do sol, onde as velhas têm a cor da neve e as mãos são campos, onde nascem ervas daninhas. miguel torga para alguns, tantos, homens e mulheres cultos, que sabem, ou julgam que sabem quem foi o miguel ou o torga, ou os dois dentro de um. adolfo correia rocha foi menino, pequeno, trigueiro, com as calças curtas a dar-lhe pela canela, as meias às riscas e cobrir-lhe a perna e a boina, a boina que herdara do avô, de lado. é assim que te imagino torga e assim te olho hoje, de noite, com a luz da fogueira a bater-te no rosto de homem parido pela madrugada. adolfo não tinha tento na língua e à tardinha sentava-se a ver passar a caravana do dia inteiro, cajado na mão, samarra vestida que o frio entrenha-se na pele e morde os ossos. escrevia, algumas verdades que ainda hoje doem por serem certas. e por vezes chorava, como eu choro hoje, a cobardia dos homens, posta no trajecto de tantos nomes, nomes que são sucata, lixo, farinha do mesmo saco, barro do mesmo pote.

Júlio,
Miguel Torga um grande poeta e sobretudo um grande ser humano que como muito bem sublinhas neste excelente poema sonhou um sonho universal, aquele em que todos os homens são iguais, sem capas nem arrogância.
Este é o sonho dos grandes homens.
Um beijo
Nanda

Julio,
entrei. saí. reentrei. estive mesmo para não comentar esta bela homenagem a Torga por me sentir envergonhado de não conhecer minimamente o poeta. mal li na escola "os bichos", para passar num teste, e por aí ficámos, eu e ele. comecei com Pessoa, passei por Sá-Carneiro, Gomes Ferreira, Ary, Al Berto e tenho Helder à mesa de cabeceira. a Torga nunca mais tive uma ponte que me levasse. até agora. obrigado.