É o meu encanto!
É meu encanto, a lua dourada,
As casas branquinhas à luz do luar,
As águas da fonte sempre a murmurar,
Os sinos da ermida sempre a tocar...
As ondas do mar beijando as areias,
Jovens graciosas que imitam sereias,
Sem blusas nem saias, nem toucas nem meias!
Nelas aprecio quanta perfeição,
De valoroso escultor que lhe pôs a mão,
Beleza que inquieta, que atrai coração...
O sol caloroso bronzeia e enrubesce,
Faces de sereia, de beijá-las endoidece,
Deixa-as mais formosas assim me parece...
Tudo isto adoro, quanta graça e encanto,
Amores que eu anseio, que eu quero tanto,
Eu amo o que é belo que Deus fez de santo!
Isto é minha vida que eu tanto aprecio,
Que me dá saúde, quanto amor e brio
Coisas que eu contemplo por horas a fio...
Quero assim viver adorando os céus,
Estrelas luzentes, fogosos lumaréus,
Tudo isto existe são encantos meus...
Eu vivo cantando salmos ao Senhor,
Co'as aves dos céus mil cantos de amor,
Ouço as criancinhas cantar com primor...
Emídio, S. Paulo, 15/7/81
Desabafo
Que me vale a mim a fama,
De boca em boca comentada,
Se para mim não vale nada,
Se quase vivo na lama!
Ouço! Ali vai ele, é aquele lá:
É o Clemente actor famoso…
Que faz aquele acto grandioso,
Vê-se nos cartazes, aqui e acolá.
Não sabem eles que um sentimento,
Esta minha alma perturba,
Minha face a disfarça e turba…
Um gesto grato obriga-me e curva,
Disfarçando a dor que me conturba…
Valem-me os aplausos no momento.
S. Paulo,19.06.81, E.B
de que serve a fama...?
A razão da minha vida está em crer
A razão da minha vida está em crer
Que meu futuro promissor será:
Que viverei num constante alvorecer,
Onde os frutos delicioso maná
Surgem entre ramada a esplandecer,
Num paraíso que só delícias dá….
Divina atracão, deslumbramento.
Alguns sacrifícios sei que vou ter
Na esperança dessa realidade…
Porém, não sei ainda como acontecer,
Quando terei essa felicidade.
Será qual eu de novo a renascer
Sob um sol luzente em claridade.
Sadio conforto que só dá prazer
Que me agracia num eterno viver.
Quem não arrisca a vida por um amor,
Que ao possuí-lo terá a recompensa
Do sacrifício seu, luta e fervor
P’ra inundá-lo em satisfação imensa,
Quando a contemplar grandioso fulgor?
Será que existe alguém que dispensa
Sentir na alma uma viva sensação,
O efeito e luz de um divino clarão?
S.P, 28/12/94, Emídio
Espantalho
Por momentos aprecio o espantalho.
Pelos dedos do artista pintado,
Admiro o curioso trabalho,
Tão perfeito, tão valorizado
Que nele me inspiro, dele me valho.
Lembro um que firmei em chão semeado,
Que afastava os corvos atrevidos,
Quando os frutos estavam crescidos.
Sinto-me bem a desfrutar a paisagem
Daquela arvore maravilhosa,
Que me convida a uma paragem
Mostrando-me como é talentosa.
Como é pacífica a sua mensagem,
Com uma descrição proveitosa,
Que enaltece a inspiração do artista,
Alimento salutar à vista.
Despertam-me os humanos semblantes,
Das expressões o significado,
Criadas por dedadas constantes,
E por um cérebro iluminado,
Mostra-me o belo e sublimado,
Obra digna da minha admiração,
Cativante, por valiosa atracão.
!5/10/94, Emídio S. Paulo Brasil