Preta perdeu jeito de ser preta
A preta quer virar-se branca,
Cabelo caído nos ombros
Sacude a cabeça e regala os olhos
Pintados de morte.
Não venham a dizer que sou racista,
O que vos digo é pura verdade;
Preta de unhas de gel,
Já não arranha o ventre da terra
Já não vai a fonte, nem carrega o pote,
Pra cabelo da branca não desalinhar.
Não, não digam que sou preconceituoso,
Esta é verdade que vos digo;
Preta de lábios de batom,
Já não bebe maruvo
Nem sopra fogo num fogão à lenha.
Preta perdeu jeito de ser preta;
Perdeu tranças que brincavam com o vento
Na sanzala. Perdeu jeito de fazer prato de fuba,
De caldo de amendoim ou de chabéu,
Que vovó Tchica lhe ensinara,
Nas três pedras triangulares dum fogão,
Improvisado por ti-Zé.
Não, não me digam que isso
É xenofobia!
Barbeiros já não têm mãos a medir;
Cada fio de cabelo cortado na cabeça
Da branca, tem seu destino-cabeça da preta.
A preta já não usa tranças,
Que tia Tchinda soube fazer, à luz do candeeiro a petróleo.
O que vos digo é verdade palpável;
É o que se vê na baixa pombalina
Ou nas ruas de grande Paris.
Preta já não sabe dançar o batuque,
Já não sabe escutar o silêncio
Dos embondeiros,
Já não fala quimbundo,
Já não fala manjaco ou crioulo.
A preta só fala pretuguês, embutido
Na sua cabeça, cabeça de cabelo morto.
Preta ganhou o jeito da branca,
Perdeu o pôr do sol na sanzala
E o som do tam-tam dum corpo a enterrar.
Se me dizerem que tudo isso
É racismo
É preconceito ou xenofobia,
Declaro-vos;
Opositores da cultura africana.
Adelino Gomes-nhaca
O meu caderno quadrículado
O meu caderno quadrículado
havia um mistério na escrita feita
sobre uma folha quadriculada
as letras contorciam-se para nela
harmoniosamente se desenharem
simbolicamente ou não comecei a perceber
que bloqueava as minhas palavras nas quadrículas
numa razão agora mais fácil de compreender,
havia de aprisionar todas as emoções nessas folhas
e dessa forma eu conseguia escrever.
e nessas quadriculas eu consigo viver intensamente.
Eureka
A geometria dos escombros
Ensurdecedor se levanta o pó
e a cidade cega tateia em desespero.
Janelas envidraçadas se entregam
de peito aberto até que o ar
se encha de chuva
de estilhaço.
Alguns pilares resistem à vibração
do ar, como soldados suicidas,
enfrentam explosões
da temperatura hedionda
e vão trepidando e se quebrando
antes da desconstrução fatal.
Por alguns minutos, cinzas
sufocam gemidos e estes sucumbem
ao silencio.
Alguns gritos chegam com o vento;
balburdias da correria
pós conflitos
depois que a poeira senta
e a cinza se cola em alguns
bravos monumentos,
escombros revelam ao mundo
suas geometrias
e a dor calada em cada fotografia
In Extremis
Há inquietantes cheiros no ar, fragrâncias intensas que nem a chuva consegue levar.
Cristalizações de plasma vivaz. Que cheiro adocicado, cadaverina negra flor de lírio.
O perfume desenha a leveza do desespero, que tem o brilho,a dor, o desejo.
Dou comigo às voltas na cama. Caio no mais profundo de mim.
Hoje é dia de exorcismo.
Confesso: “ Tenho uma amante”
Tento resistir, mas não consigo, não adianta, não quero.
Só de olhar para Ela, a sentir, uma dor trespassa alma.
É linda, poderosa, deixa-me completamente indefesa.
Seu encantamento é tão grande que me apetece ser possuída, ali mesmo, a todos os instantes.
Sentir seu frio, sua pele alba, sua língua vagarosa.
Quero-a, Quero-a.
Hoje percebi, que não consigo mais esconder este meu adultério moral,
Podes julgar-me. Estou aqui.
Entendo a natureza humana como incompleta, um puzzle no qual por cada peça colocada, revela duas em falta e quanto mais amo, mais preciso amar, ser amada, tu não?
Ela ama-me. Com toda a força que não tenho, como nunca ninguém me amou.
Está comigo desde o meu primeiro momento de existência mortal, nunca me abandonou.
Conheces alguém que esteja sempre presente onde estiveres? Eu não, mas ela está.
Quero-a só para mim. tenho ciúmes. Sei que ela é me infiel, a todos seduz, a todos quer e, no final ninguém a consegue negar.
Seu nome?
Queres saber o seu nome?
Morte, conhece-la?.
Diz-me...
Diz-me. Em que rua estavas, quando passei, sem que reparasse em ti!
Diz-me. Em segredo, todas as coisas que mutilam o teu desejo e que, assim, encobrem a alegria do teu rosto. Podes contar-me tudo o que quiseres, desde que o teu olhar sorria e a tua boca se encha de palavras quentes, para que as deites cá para fora, onde estarei, pronto, para as receber e partilhar, assim, as minhas emoções para que se unam com as tuas.
Diz-me. Diz-me que deixas o teu coração falar. Diz-me que não impedes o teu sentimento de se mostrar.
Diz-me que procuras a felicidade, e que, quando a encontrares, saberás reconhece-la, agracia-la e guarda-la. Diz-me que não tens medo de ser feliz!
Diz-me que nunca esquecerás as letras que usas para construir o mundo, nem que seja, apenas, o teu mundo…
Diz-me tudo! Diz-me… que eu serei um ouvinte activo, liberto de preconceitos, para que entre as tuas palavras, possa sonhar as minhas e assim, construir o meu mundo também.
Mas, diz-me! E mesmo que queiras o silêncio, diz-me, por gestos, ou por imagens, para que encontre uma ponte neste caminho minado. Será como que um fortalecer, entre murmúrios, que outras almas porfiam em fazer acontecer.
Diz-me.
Diz-me que deixas o teu sorriso fluir.
Diz-me que te libertas de mim, de ti, e que, assim, consegues ser a essência.
Não tenhas medo de nada. Diz-me…
" SOMBRAS...SÃO AS PROMESSAS"
https://www.youtube.com/watch?v=Qx_S_hjUPTw
SOMBRAS ...SÃO AS PROMESSAS
Verde e vermelho são as cores da bandeira da TERRA DO NUNCA...
Porque nessas cores mora a VERGONHA ...E A MORTE
Alimentados com votos, que dão dinheiro aos partidos que apregoam, defender seus patriotas
Todos eles nada mais fazem que retorica
Os que conseguem o "CADEIRÃO"
"Embrulham-se" em ACORDOS/PROTOCOLARES assinados com tinta TENEBROSAMENTE CRIMINOSA
Verde e vermelho são as cores da bandeira da TERRA DO NUNCA...
Uma terra onde as trevas nascem em cada segundo e o poder do NÃO que escraviza e hipoteca VIDAS
SÃO SOMBRASSSSSSSSSSS...SÃO SÓ SOMBRASSSSSSSSS
Branco, é a cor vestida por aqueles que de forma briosa
Defendem o juramento que um dia fizeram
Branco, é a cor vestida por aqueles que lado a lado caminham na batalha desleal de um poder assassino
Mas branco, também é a cor vestida daqueles que acorrentados a ordens, MENTEM e NEGAM aos que só tem como promessa o acabar de vida.
SÃO SOMBRASSSSSSSSSS...SÃO SÓ SOMBRASSSSSSSS
VERGONHA...MUITA VERGONHA é a cor que tinge este povo que vira a cara para não saber
VERGONHA...MUITA VERGONHA é a cor que tinge este povo que grita GOLOS enquanto arrotam a cerveja que nem lambuzes e que escarram anedotas aos políticos enquanto todos eles matam os compatriotas
Covardes, canalhas é o que são... vergonhoso Zé Povinho
Segues as noticias com lamentos
Mas que fazes TU??????...povinho cego
Estás a espera que um santo milagroso saia do meio do NADA e TUDO faça acontecer???
Palermas...de que esperas para tirar os cravos das metralhadoras e construíres desta vez alguma coisa com as tuas próprias mãos????
SOMBRASSSSSSSSS...SÃO SÓ SOMBRASSSSSSSS
Arco iris será sempre a cor de quem é portador de uma doença que mata em silencio
Arco iris será sempre a cor de quem a todas as portas bate com valentia e sempre recebe NÃO
Não sou ninguém para escolher palavras licodoces e apaziguadoras
Apenas que lamento ter que assumir que nasci neste pais.
Nesta terra do nunca e que as promessas não passam de sombras escondidas por uma bandeira anedoticamente pintada a VERDE e VERMELHO
SOMBRASSSSSSSSS...SÃO SÓ SOMBRASSSSSSSS
Elisabete Luis Fialho
03-07-2014 13H30
Texto e Voz- Elisabete Luis Fialho
Imagem- Google e fotos
Alentejo, o ninho da liberdade
Alentejo ao Sol é um orgasmo no ventre do meu país. Há sempre nos montes oiros de saudade. Agarram-se à terra sobreiros orgulhosos donos das sombras. Nos ombros da brisa sentem-se asas a trinar o trigo das searas. Os pássaros cavalgam aos milhares os horizontes quentes nas horas lentas. Grita nos povos um fogo alvoroçado. Em cada galho de gente ardem as línguas, corpos vergados em doces afagos a florir raízes, fundas, cada vez mais fundas num infinito ciclo de amor retorno. Escancaram-se os braços ao pó dos dias, que dão o flanco às noites mornas no silêncio dos arados. Lá cheira a amantes saciados, em poesias a germinar searas de ilusões. Come-se a esperança nas casas de Catarina, e cantam-se os filhos em Vila Morena. Nas palavras ceifam-se todas vontades num sorriso aberto a convidar à partilha numa oração feita de pão. Só lá à noite se ouvem rir alto os girassóis. E eu pergunto: onde se pousa a liberdade? No alto ninho da cegonha, pronta a voar feliz.
Alentejo ao Sol é um orgasmo no ventre do meu país. Há sempre nos montes oiros de saudade. Agarram-se à terra sobreiros orgulhosos donos das sombras. Nos ombros da brisa sentem-se asas a trinar o trigo das searas. Os pássaros cavalgam aos milhares os horizontes quentes nas horas lentas. Grita nos povos um fogo alvoroçado. Em cada galho de gente ardem as línguas, corpos vergados em doces afagos a florir raízes, fundas, cada vez mais fundas num infinito ciclo de amor retorno. Escancaram-se os braços ao pó dos dias, que dão o flanco às noites mornas no silêncio dos arados. Lá cheira a amantes saciados, em poesias a germinar searas de ilusões. Come-se a esperança nas casas de Catarina, e cantam-se os filhos em Vila Morena. Nas palavras ceifam-se todas vontades num sorriso aberto a convidar à partilha numa oração feita de pão. Só lá à noite se ouvem rir alto os girassóis. E eu pergunto: onde se pousa a liberdade? No alto ninho da cegonha, pronta a voar feliz.
apenas um pouco de ousadia
quando estás para chegar o desassossego marca pontos nas borboletas do meu ventre como se um caçador atirasse a rede e deixasse sair o ar
é então, que os sonhos brancos sobem as paredes do quarto e fica tudo tão claro
até a janela se enche de palavras pequenas enquanto as cortinas
sussurram saudades
enfeito o chão com pétalas rosas que se abrem como lábios sedentos dos teus passos
uma jarra ajeita as tulipas brancas misturadas com sinceridades ansiando o teu olhar
a colcha de tecido macio do pêssego abre os braços para que o teu corpo, em flor, incendeie o tato
o meu vestido perde-se da pele dourada como abelha procurando os favos de mel da tua boca
e quando a porta se abre deixas a ausência presa no trinco do lado de fora: não incomodar
e tu…entras na minha fome de pão ázimo com a faca afiada num suplício manso investindo p’la noite dentro…
Parca razão (racionada)
Ando racionando tudo. Até a razão. Pois, está findando qual o arroz do mês guardado naquela lata. Vou racionando como o viço de um sorriso em seu primeiro momento, que logo em seguida vai escasseando-se para poupar as rugas. Meu tempo já está pela metade e ainda vou economizando absurdamente a razão! Sustento essa idiotia porque posso deambular dias e dias sem ingerir esse alimento; sobrevivendo da mais pura emoção, que me encorpa, que me faz golfar algo morno, amorfo! Assim me intoxico, com sintomas de uma perturbada exaltação rasa e fluida... Pegajosa!
Tenho cuidado apenas com àquela hora “dos mágicos cansaços”. Àquela hora instável, de prumos sinuosos onde escorre dos dedos o melaço dos poemas doces, seguidos de outros tantos orgulhosos e viçosos, transbordando uma "sapiência" excessiva, muito vista! Sim! Depois agradeço por terem percebido que “eu sou demais"! Ah... São nessas horas (raras vezes) que procuro a razão em generosas colheradas de Drummond, outras tantas de Cony, Veríssimo, Euclides... Cecília, Clarice e até o Rodrigues! Para matar esta fome de “falta de saber”. Desci do ponto um pouco antes e sigo com pernas débeis, apertando um pequeno punhado de razão em minha mão.
O que é um estupor?
O que é um estupor?
Um estupor é uma coisa ...
que não chega a ser pessoa
que não sabe respeitar o outro
que nada do que faz tem valor
que xinga e ofende porque sim
é sempre infeliz e desprezível
aparece porque lhe apetece
nem sequer espera pelo convite
é completamente ignorante, e
como tal nada tem a partilhar
geralmente é mal amado(a)
o que dá um péssimo resultado
tudo o que diz é destrutivo
nada vale, nada adianta
e coitado(a) apenas inventa
junto de pessoas em um lugar
veio agora um(a) aqui ao site
com nome de coisa estranha
entropeçando no que pertende
sem que uma pessoa se aguente
que vá para o fundo do quintal
cavar sua própria funda sepultura
aqui não terá lugar nem voz alguma
neste site distinto de prosa e poesia
que o diabo o leve e guarde lá longe no inferno
que arda nas labaredas que tão fácil alimenta
e nem tente voltar, qual retalho chamuscado(a)
de um inferno fumegante a cair aos pedaços
aqui estamos num lugar de paz, onde se pretende
partilhar algo que cultive o gosto pela escrita
e pela aprendizagem dia a dia nas leituras
onde todos vivem no respeito a que se dão.
Eureka, 10 de Maio de 2017