NO COLO DA LUA
No colo da lua
Aconchegada no colo da lua
Ouvindo cantigas de ninar
Parecia que eu era filha sua
Comigo ficava a embalar
As estrelas fiquei admirando
Refletiam mil cores ao luar
Emolduravam a noite enfeitando
Um belo quadro com seu cintilar
La na rua um poeta versejava
Para encantar a sua namorada
Na janela a mocinha suspirava
Feliz o escutava apaixonada
O sereno escorregou pelo meu rosto
Na madrugada querendo me beijar
Para mim tinha o mesmo gosto
Do beijo com o qual vivo a sonhar.
Carol Carolina
Ausência
Na manhã que te levou
Na tarde que não se cala
No beijo que não te esquece
No abraço que ainda aquece
Na noite que te esperou
Na cama onde agora dorme o frio
Na tua ausência doída
Num quarto vago e vazio
Minha saudade deita seu corpo
Junto ao teu corpo macio
Sou como uma criança
SOU COMO UMA CRIANÇA
O tempo passa e o silêncio desce
Traço o último olhar sobre este dia
Já a sombra da noite aparece
Já surge a monotonia.
Nada mais repousante que esta hora!
A sombra da noite caindo
Ver o Sol distante a ir embora
E as giestas de amarelo vestindo.
Cantam ralos sem parar
E não param na ribeira as rãs de coaxar.
O burro tira ainda a àgua à nora
E já o dia sem lamento vai embora.
Mergulho meus dedos na escrita
A mim tantas perguntas faço!?
No Mundo tanta desdita
Tão pouco amor, falta de abraço.
Tiro um livro da estante
Pensando numa razão para a vida
Fecho os olhos me sinto perdida
Deixo o pensamento distante.
Escrevo, sobre coisas de pouca monta
Escritos que dão pouco fruto
As lembranças já me deixam tonta
Perco Vida a cada minuto.
Sou como uma criança
Tal qual se manifesta
Ora alegre e com esperança
Mas logo sem vontade de festa.
Leio um livro ofertado
Que fala de lágrimas e olhos doridos
Do presente e do passado
E de mortos não esquecidos.
De viagens sempre adiadas
Páginas e páginas tristes,
em tristeza mergulhadas.
Pergunto-me porque estou triste
Se, porque mais um dia passou
Ou porque a tristeza insiste
Em me pôr mais triste do que já estou.
Não leio mais por hoje
Apagou-se o fogo na lareira
Já a vida me foge
Ela que ardeu em mim a vida inteira.
rosafogo
Escrito no silêncio da aldeia, só ouço agora o piar dos pássaros escolhendo ramo para prenoitar.
crepuscular
aquele círculo
de pássaros
aquela valsa
de cores
em festas
aquele céu
podando
dia
pra chegar
noite
sem arestas
Noite de tempestade
Noite de tempestade
Em uma noite eu ia voltando à casa
E notei que o temporal ia chegando
Mas vinha tão rápido que vi quando
Caiam raios fortes em cor de brasa
Cheguei, e a tempestade começou
A luz no momento foi se apagando
E Acendi uma vela que fui achando
Mas que pouco claro proporcionou
O vento era forte e a casa tremeu
A cidade ficou escura igual a breu
E a tempestade varreu essa cidade
No dia seginte se viu o acontecido
A torre da minha antena tinha caído
E casas destelhadas na localidade.
jmd/Maringá, 09.05.23
Lunático
Ó louca lua
Desnuda e gélida,
O que me contas
Nesta noite tétrica?
Que um dia
Estes corpos
Mortos e frios
Foram vidas elétricas?
Que estas bocas
Silentes da afasia
Um dia foram
Coro e algaravia?
Ó louca lua
Desnuda e pétrea,
Um dia foste
Lauta e profética!
Inspiraste,
Insana e frenética,
O coração dos ascetas,
Dos abades e dos poetas
E foste o álibi
De todos os criminosos,
Daqueles que buscavam
Em cismas e milagres
O perdão e a eternidade.
Tu me aparecias
Em forma de mulher
Com as vestes rasgadas,
Um seio e o púbis à mostra
Numa solitária estrada
Em que, iníqua, tu brilhavas.
E por mim acompanhada
Nada me dizias
Ou me indagavas,
Apenas o meu leito
Tu corrompias
Na madrugada.
Eu vinha do mar.
Era onde eu te via,
Mas não onde te tinha,
Pois era num lupanar
Em noites frias
Que te possuía
Dos céus despregada.
Ó santa pura e profana,
É por ti que o herege
Peca e exclama!
Tu que dos céus
Preparaste as insídias,
Rasgaste as insígnias
E todos os véus!
E nua, sempre nua
Como uma hetaíra
No firmamento
Da Grécia antiga
Ou noctívaga
E sonâmbula
Nos sofrimento
Dos que amam
Na mais escura treva
Habitada por corvos,
Templos e altares
Em ruínas,
Vagas, deambulas
Por todos os corações
Em festa ou em luto
De quem caminha
Por átrios, câmaras e colunas
Ou dorme debaixo dos viadutos.
Oh, tu que foste
A perversão e o vício
Dos corações apaixonados,
Errantes e perdidos
E te derramaste
Nas noites e vales
De brilhantes catadupas
E telúricos tropismos.
Oh, tu que foste
A breve loucura
No torturado espírito
De todos os arrependidos,
Ó louca, nua,
Impassível e gélida,
Tu me torturas,
Tu me torturas
Há incontáveis eras!
Desatino
Desatino
Bebendo e chorando é o seu destino
O bar já reservou pra ele uma mesa
Quando ele chora entra em desatino
Mas quando bebe espanta a tristeza
Em todas as noites vai ao mesmo bar
E fica bebendo até o dia amanhecer
Todas as rodadas só ele quer pagar
Já não se importa o que vai ocorrer
Quem o vê no bar não sabe sua vida
E nem sabe o que lhe está sucedendo
Por que agora perdeu-se na bebida
E o que ocorreu por estar sofrendo
Tinha dinheiro e jogava em cassino
Mas com a bebida ele foi fracassando
E com a sua mania de ser libertino
A sua família foi lhe abandonando
Agora ele vive sozinho sem alegria
E vive lamentando essa triste sorte
Recebe apenas a sua aposentadoria
E assim vai indo até chegar a morte.
jmd/Maringá, 07.08.23
ESTRELAS NO FUTURO
ESTRELAS NO FUTURO
- anoitece -
alvorecer do escuro
no meu olhar
estrelas no futuro
dão a luz
(pelos furinhos do muro)
PINGA-FOGOS DE LUZES E SONHOS
PINGA-FOGOS DE LUZES E SONHOS
n’um arfar de peito que se esvai
n’uns olhos sobejos de palidez prata
n’uma sombra soturna e inútil de árvore
na brisa fria e baralhada que me contrai
no alvoroço das nuvens ao compasso da noite
no manejo das almas a ombrearem a lua...
singra uma nau insensata
de orbitar emoções
pelos mares sensoriais da galáxia...
e há morte contente ao tombarem estrelas
e há pinga-fogos de luzes e sonhos
sobre as folhas orvalhadas da cerca viva
do quintal encandeado da minha casa
A noite cavalga no meu peito
A noite cavalga no meu peito
Neste peito prensado de luar
Galopando o meu corpo vagueia
Na arrojada essência de ficar
Percorro as areias movediças
Em equilibrados saltos mortais
Sinto-me um mero saltimbanco
Em plenas acrobacias sequenciais
Voo no prolongamento do tempo
Nos braços da divina loucura
Estonteando o meu corpo sedento
Orvalhado-o de suave ternura
A noite morre à beira do sol
Nas madrugadas sequiosas de cor
E nos meus olhos impregnados
O gosto salgado do teu sabor
Escrito a 15/06/09