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o jogo de cartas

 
A lua estava vacilante e caminhava sobre o mar, lentamente.o vento suprou-me ao ouvido e arrastou a areia por entre os meus dedos dos pés, senti-me livre.
Enquanto desabafava com o mar, o meu coração explodia outras sensações, outros ares.Olhei para o relógio parecia-me parado, estava sentava em cima de uma cadeira de plástico meia suja, meia molhada.
Quem me visse aquelas horas pensaria mil e uma coisa sobre mim.Talvez me perguntassem;
- que fazes ai rapariga?
Dos poucos habitantes desta terra só mesmo os pescadores sentiriam a minha solidão. A areia branca da praia parecia aspirar remoinhos em tamanhos pequenos, conseguia sentir nos pés a humidade fresca que alterava o comportamento das arvores e claro formava outras dunas, de meu ponto de vista tudo me parecia um pequena noite que se adivinha.
o eco do mar encostando ás rochas em forma de beijos era delicioso, como chapadas de àgua em mim, queria sentir a frescura, a volta dos meus pés transformavam-se torres disfaçadas, sentia crescer castelos em volta deles.
Quando saí do casino, enraivecida pela perda apenas segui uma direção, lá dentro ninguém parecia se importar comigo, acho que nem conta se deram de eu perder.
O vício apodera-se da mente , do corpo e da alma.
De garrafas na mão as meninas servem-nos para matar a secura da boca, não podemos falar, rir ou disfarçar se ganhamos ou perdemos. De facto os disparos ocasionais de sentirmos que ganhamos são tentarnão perder a cabeça, como se pudessemos disfarçar.
Eu não consegui disfarçar quando perdi. Para além de sentir o corpo preso á cadeira, os nervos de querer sair dali o mais rápido possível, de querer ganhar só serve para aumentar a pressão.
Ao meu lado estava o cavalheiro, lindamente vestido, charmoso por assim dizer, alguns cabelos brancos disfarçavam a terna idade, o perfume de uma marinheiro, que brisa!
E este marinheiro gritou-ºme entre risoa:
- Então rapariga naõ jogas!
A bela jovem que servia o cavalheiro do lado olhou de lado, olhou para mim e fez-me um sinal parecido com um ok. E foi nessa mão que lancei o feitiço, bebi um golo de água, senti os dedos das mãos a tremer, hesitei.
Sobre a mesa as cartas pareciam-me notas grandes, as fichas uns pequenos trocos, talvez as gorjetas que deixaria para aquela jovem tão bela.respirei profundamente, levantei a cabeça e novamente olhei a face de cada um ali presente, todos me pareciam estar com ar de dúvidas, como se soubessem que não iam ganhar.Naquele momento apenas pensava na sorte que estava a ter, o meu momento, na minha vida.
E lancei as cartas.
Os pensamentos imensos foram a ínica visão sentimental que tive, o meu coração batia tão fortemente, o meu ar aproximava-se das luzes que iluminavam aquela sala, parecia embaciar os copos, as cartas, as fichas, e tudo quanto rodeava à minha volta.
Nesse instante olhei fixadamente esperando o resultado da última carta.
E vi, e perdi.
Perdi tudo, perdi o sonho, o dinheiro, ganhei vergonha..
Não sei como ainda consigo respirar, nem sei bem ao certo como vim aqui parar.
Que desilusão, que tolice.
E tudo porque pensei que aquele olhar que parecia confirmar era para mim. Mas não era, era para o cavalheiro bem vestido que ao meu lado se sentava.
Um homem calado nem o sei descrever bem.
Um tempestade aproxima-se , um pinheiro costeiro, curvava-se e deixei de ver a lua luminosa, o relógio adiantara-se três horas e nem tinha dado por isso.


Iolanda Neiva
(muitas vezes falo só para mim,
e escrevo para que alguém me ouça)

 
Autor
iolanda neiva
 
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