Poemas : 

Guardiães do meu prazer

 


Arde a saudade lenta recheada pelo anoitecer,
crepúsculam-se em mim as estrelas fixas do horizonte,
amanso as feras lânguidas, guardiães do meu prazer,
dou-me em temperança, fidelidade e rituais segredados.
Há montes verdejantes, pradarias em flor,
sábios e guerreiros que parafraseiam leituras vadias e insanas.
Depois diz-se de mim que murmuro cantigas antigas,
melodias de tristeza e solidão,
que povoo um mundo cinza e habito ruínas ao abandono.
Reino nas orgias, onde se mistura o animal com o selvagem,
o abandonado com o satisfeito, o moribundo com o mendigo,
nas entranhas das florestas virgens.

Amo o preconceito esbatido na pedra do tanque da minha avó,
amo a roseira florida dos meus cabelos molhados em suor,
amo a casa caída, abandonada, morada de quem me deu vida,
amo a morte soturna que ceifa cada alma que vegeta.
Odeio o amor que é recusado, vendido, sórdido,
vomitado nas sarjetas imundas, dado como alimento vão.
Odeio o amor que não ama, que ama mas odeia.

 
Autor
jomasipe
Autor
 
Texto
Data
Leituras
922
Favoritos
2
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
24 pontos
8
0
2
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Moreno
Publicado: 04/11/2009 12:25  Atualizado: 04/11/2009 12:25
Colaborador
Usuário desde: 09/01/2009
Localidade:
Mensagens: 3482
 Re: Guardiães do meu prazer
Murmuras cantigas que se perpetuam nos crepúsculos do anoitecer, deleitando aqueles te lêem assim, na nudez da alma.

abraço


Enviado por Tópico
Egéria
Publicado: 04/11/2009 12:57  Atualizado: 04/11/2009 12:57
Usuário desde: 28/09/2009
Localidade:
Mensagens: 889
 Re: Guardiães do meu prazer
"Odeio o amor que não ama, que ama mas odeia."
Belo. Beijinhos.


Enviado por Tópico
ÔNIX
Publicado: 04/11/2009 13:20  Atualizado: 04/11/2009 13:20
Membro de honra
Usuário desde: 08/09/2009
Localidade: Lisboa
Mensagens: 2683
 Re: Guardiães do meu prazer
"Depois diz-se de mim que murmuro cantigas antigas,
melodias de tristeza e solidão,
que povoo um mundo cinza e habito ruínas ao abandono."


È sempre um prazer entrar no teu mundo,
aquele que também me adorna de rituais sagrados, onde o desejo permanece para lá do imaginário
É um amor estendido até aos confins do mundo que tantas vezes o esquece


beijos


Matilde D'ônix


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 04/11/2009 16:14  Atualizado: 04/11/2009 17:55
 Re: Guardiães do meu prazer
torna-se belo, todo poema que tem projetado lembranças no olhar do poeta, mesmo que haja múrmurios de cantigas antigas e melodias de tristeza e solidão. muitas vezes são seus pilares.

fraterno abraço amigo.

Silveira