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Está aí alguém?

 
Está aí alguém?

Respondem-me?
Não?
Porquê?
Quem ganha com isso?
Quem perde?

Está aí alguém?

Respondem-me?
Não?
Porquê?
Quem ganha com isso?
Quem perde?

Está aí alguém?

<br />Sinto-me à deriva neste denso oceano a que chamo de vida.
O meu navio foi afundado por um estranho iceberg camuflado.
A minha confiança na rota e em mim era total esse foi e é o meu eterno mal.
Pois o perigo na noite soturno esperava e eu nem sequer com ele sonhava.
O primeiro embate não foi fatal e a destruição foi meramente parcial.
Salvar o navio era a minha ilusão que depressa se transformou em terna obsessão.
Com esforço os seus danos consegui remediar e na rota certa ele voltou por fim a navegar.
Mas era fácil de prever o que iria suceder só eu cego não o queria nem ver.
Este navio era o meu sonho mas depressa se metarmorfou em pesadelo medonho.
Nada restava da sua imponente graciosidade tudo acabou sem dó nem piedade.
Mesmo assim aquando de longe o fitava aos meus olhos sua beleza jamais findava.
Nela tinha de acreditar se bem que nada já de belo me tivesse enfim para dar.
O segundo embate foi curto e frio aguentei-o sozinho perdido no meu vazio.
Da tristeza que me esvaziou o coração encheu-se-me a cabeça de crua razão.
O que de belo no passado via só unicamente para mim no negro da noite existia.
Um náufrago assim me tornei e as costas à vida e aos amigos enfim e por fim voltei.
Sozinho agora nado no imenso mar sem esperança de uma salvação vir a encontrar.
A estes destroços vou agarrado antecipando um efémero fim por mim agora já tão desejado.
A tormentos e tempestades sobrevivi sem querer nem perceber merda! Será que cresci!
Até que um dia por fim da bruma uma luz apareceu afinal a esperança porra! Essa não morreu?
Tentei tentei com todas as minhas forças gritar para que ela a mim me viesse por fim salvar.
Como ecos na escuridão elas os meus pleitos silenciou ao meu lado a salvação essa sem demoras passou.
Só a esforço nela consegui tocar sem medos avancei senti a sua beleza e tudo o que me podia dar.
Mas ela em mim pouco ou nada reparou de um náufrago afinal não passava ela por mim não esperou.
Assim aqui fiquei para sempre aos destroços amarrado tento nadar remar esbracejar gritar coitado.
Mas no fundo sei que estou verdadeiramente e para todo o sempre já a repousar afogado realmente.
Resta-me a tonta esperança o eterno sonho uma mera triste ilusão de uma só e terna criança.
Que alguém veja para além do náufrago acabado que enfim e por fim aqui repousa já afogado.
Para que conheça sem mais não o meu o teu o seu o nosso o vosso verdadeiro coração.

Está aí alguém?

Respondem-me?
Não?
Porquê?
Quem ganha com isso?
Quem perde?

Está aí alguém?

Respondem-me?
Não?
Porquê?
Quem ganha com isso?
Quem perde?

Está aí alguém?


António de Almeida

 
Autor
Antonio de Almeida
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 25/07/2007 16:33  Atualizado: 25/07/2007 16:33
 Re: Está aí alguém?
Eu estou aqui... mas sou apenas eu

Enviado por Tópico
Paloma Stella
Publicado: 25/07/2007 17:34  Atualizado: 25/07/2007 17:34
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Usuário desde: 23/07/2006
Localidade: Barueri - SP
Mensagens: 3514
 Re: Está aí alguém?
Compreendo cada palavra.

Parece-me até um desespero.
Que sinto muito por aqui dentro de mim.

Digo-te de coração.
Aqui estou eu, respondendo-te, porque sim você está ai também.
E ninguém ganha ou perde com isso... as pessoas que ignoram as outras, fazem mal a si mesmas.

Beijinhos

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 25/07/2007 18:32  Atualizado: 25/07/2007 18:32
 Re: Está aí alguém?
Um desespero negro...
Mas tem salvação...
Esse alguém irá aparecer,
Para te dar a mão!

Gostei!
Beijinho

Enviado por Tópico
goretidias
Publicado: 25/07/2007 18:36  Atualizado: 25/07/2007 18:36
Colaborador
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Mensagens: 1237
 Re: Está aí alguém?
Não será quem quer, mas eu estou aqui!
Um abraço