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(des)Culpa

 
Olhando o céu pensei: – Parece papel de parede, tá tudo tão parado!
O brilho intenso e parado das estrelas, a luz estagnada da lua parada; nem um som eu ouço, mas, lembro da música de Raul Seixas: “O dia em que a Terra parou”.
Será que parou? – penso eu. Ou será que cheguei a tal nível de meditação, de elevação espiritual, de ascendência? É querer demais...
Vou deitar. Mesmo na cama imagino o dia que, como que em greve, o mundo parou. Ninguém saiu de casa pra nada. Puro acaso, como se um mal súbito acometesse a todos.
O motivo? Nossa existência!
Nas ruas desertas ouvimos os brados mudos e lamentosos. Sons que já estavam em tudo e chegavam a todos, mas ninguém ouvia.
Era a mãe Natureza pedindo piedade. Clemência!? – suplicava ela em tom agonizante. Faz tempo que ela nos avisa e não ligamos. Hoje, tudo parou graças a ela...
E eu, em meio a tudo isso? Que sempre soube, sempre ouvi. Não só ouvi quanto não deixei de falar. Pago a mesma quantia daqueles que se fizeram de rogado?
Não vou agüentar, vou explodir, em plágio de novo: “Pare o mundo que eu quero descer!”
Mas, já está parado, de luto! E por nós mesmos, que nos vamos daqui a pouco.


Mário Piccarelli

 
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Mario Piccarelli
 
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