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Segredos Eternizados (EC)

 
Segredos Eternizados (EC)

Quando Angelina mudou-se do Sobrado Amarelo da Rua 12, pouco levou. Surpreendeu-se o moço da caminhonete que a acudiu na mudança, tanto tempo, um suntuoso sobrado, e tão poucas miudezas. Contadas caixas com livros, uma sacola de roupas e pessoais, uma caixa maior com alguns porta-retratos e um pequeno abajur, um móvel que se assemelhava a um criado-mudo, sem gavetas e fechado em dois cadeados. Só. Tão pouco e tanto, já que da vida o maior achado residia nas lembranças. Relíquias impalpáveis, imateriais e de maio valor.
O que fora feito do sobrado era quase o que Angelina sentia. Trocara de habitar, e um novo sentir ali para sempre moraria. No coração saudoso, nada trocaria.
Agora, faria sua última mudança, menores seriam as minudências, sobrou nada, ou quase nada. Aquele móvel intocável, que por anos ficara impávido em um canto do cômodo, seria finalmente aberto, essa fora a recomendação.
Anita a fiel hospedeira, já guardava as chaves e a autorização. Decidiu abrir sozinha. Eram comuns entre os hóspedes aquela partida, ainda assim, de cada secreto coração guardava um afeto, uma confissão. Um querer bem.
No quarto, trancada, abre a janela, um tímido raio de sol ingressa, pela fresta da porta é perceptível o olor das alfazemas dos lençóis da cama impecavelmente arrumada.
As chaves abrem sonoramente os silêncios dos cadeados. A porta do pequeno armário está emperrada.
Forçar um pouco...
Quebrar a formalidade do sigilo.
Entrar no inconfesso de um ser.
Invadir os sonhos, ilusões.
Desilusões...

Nada surpreenderia mais Anita, tantos anos partilhando tantos íntimos pormenores. Aquele armário, porém era quase vazio, uma imensa lacuna, um vago, parêntese. Porém abaixo da madeira do assoalho Anita percebeu uma fina nesga. Forçando um pouco viu que a tábua do fundo saia.O tempo era curto e precisava findar aquela parte da missão.Arrancou de vez a tábua e lá estavam os secretos de Angelina. Um pequeno embrulho em papel amarelado foi cuidadosamente aberto,
Aproximadamente umas setenta cartas em envelopes semi apagados, em boa disposição e organização.
Não haveria tempo de lê-las e nem haveria razão para tal. Aquele era um segredo que seria respeitado, igualmente como o desejo manifesto de Angelina, que o armário nunca aberto naqueles últimos vinte anos assim o fosse e o conteúdo dele fosse depositado em seu derradeiro leito, par embarcar com ela para a eternidade.
E assim foi feito.
Segredos que se eternizaram.

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Desbotadas Cartas
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[size=large]Citando:
A felicidade é branca... O amor tem matizes que nos fazem ver o infinito..
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O desejo de escrever persiste, por vezes em tons felizes, vibrantes cores, outras em tons pastéis. cor de pérola, mas o que importa é que não há r...

 
Autor
RoseaneFerreira
 
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