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Amores de um escritor

 
Susana passeava na rua estreita, de perna à mostra subia a ladeira com calma. Lá em cima era o local em que tudo podia acontecer. Pelo caminho já se ouviam as vozes da concorrência, qual amigas qual quê, essas esperavam-na lá em cima, junto ao velho moinho.
Nessa noite havia mais luz que o habitual, estava lua cheia. Ao longe já se deslumbravam a Maria e a Isabel, e com elas a felicidade que erradiava a metros de distância.
Susana, gritou Isabel. Chega cá, tenho algo para te contar que nem vais acreditar.
Boa noite, respondeu Susana enquanto as cumprimentava com dois beijos na cara. Diz-me lá que mentira é que eu vou ouvir desta vez.
Estás a brincar, exclamou Isabel. Não é mentira nenhuma, é uma história que eu e a Maria passámos juntas, se quiseres pergunta-lhe a ela, estás à vontade.
Não, deixa estar, conta tu, afirmou Susana.
Então aqui vai, falou Isabel. Conheçemos hoje um homem.
Só um, exclamou repentinamente Susana.
Não brinques, estou a falar a sério, disse Isabel.
Sim, está bem, continua que eu não te interrompo mais. Conheceste um homem e, falou Susana.
Conheçi um homem, ou melhor, conheçemos um homem e ele prometeu que nos tirava desta vida e que nos dava uma vida decente, afirmou Isabel.
E tu foste acreditar, reiterou Susana. Os homens são todos iguais, dizem que nos vão ajudar a sair desta vida mas o que querem é que trabalhemos para eles, ou que trabalhemos com eles, de graça.
Não sejas assim, disse Maria. Este parecia-nos estar a falar muito a sério e era muito bem educado e generoso.
Pois, pois, e não quis nada de sexo com vocês, perguntou Susana.
Isso queria, foi muito directo e disse que isso era o que mais lhe interessava, e claro, a nossa felicidade tambem, pois se nós não fossemos felizes ele tambem não seria, comentou Maria.
Sim, ele disse isso, reafirmou Isabel.
Então e o que é que ele ia fazer para vos dar essa felicidade toda, é que pelos vistos ele já vos deu foi a volta a essas carolas tontas, falou Susana enquanto gesticulava.
Ele disse-nos que era um escritor e que precissava de inspiração, mas que para ele a inspiração tinha que ser verdadeira e honesta, e que o seu amor era verdadeiro e a sua palavra honesta, afirmou Isabel.
E disse-nos que recebia bom dinheiro e que nós não precisaríamos de trabalhar, mas que não sabia se nós eramos capazes de deixar esta vida e trocá-la por uma vida simples e de casa. O que é que achas, Perguntou Maria.
As três foram entrando para o velho moinho e continuaram aquela conversa.
Quem não estava muito animada era Susana, que sabia que se elas decidissem ir, perderia as suas duas amigas e ficaria sosinha na noite a trabalhar com aquelas pessoas indiferentes à sua maneira de ganhar o pão de cada dia.
Mas o homem sabia da presença da sua amiga e tinha oferecido às três aquela proposta. Susana quando soube nem hesitou, ela já estava mais que farta daquela vida e aceitou pelas três aquela tentativa de sair desse mundo escuro e perigoso.
Bem, por mim aceito, e acho que é uma boa maneira de nos tornarmos numas mulheres decentes, afirmou Susana.
Nessa mesma noite resolveram ir logo para casa e repensar melhor sobre os pormenores da proposta do tal homem.
No dia seguinte, já de cabeça fria e com as ideis acertadas, resolveram ir até à casa do tal escritor. Morava na rua da Lua Meia, na Cidade dos Prazeres. Aprontaram-se e lá foram.
A primeira paragem foi na pastelaria de
S. Bento, onde elas nunca tinham estado, não queriam ser reconhecidas pela vida que levavam antes.
Estou tão nervosa, exclamou Maria.
Tambem eu, replicou Susana. Como é que ele nos irá receber?
Há-de nos receber bem, respondeu Isabel.
Concerteza que sim, afirmou Maria. Mas, e como é que nós nos iremos dar nessa vida.
Logo se vê, repondeu Susana.
Tomaram o café, fumaram um cigarro e seguiram viagem, mais pareciam três garotas no seu primeiro dia de escola.
Já perto da porta de entrada da casa do escritor uns vizinhos não ficaram indiferentes à passagem das três moças.
Olha bem para aquela loiraça, fazia-lhe um filho, disse um deles.
E eu fazia-lhe outro, comentou o outro.
Elas já habituadas áquele tipo de "elogios" nem ligaram, e sempre de cabeça erguida sem sequer reparar em tais homens seguiram em frente.`
É aqui, afirmou Isabel.
Pois é. Número 36. É mesmo aqui, disse Maria.
Toco, perguntou Susana com muita vontade.
Força, exclamou Maria.
Há janela ele já as via. Foi direito à porta e esperou por novo toque enquanto se mentalizava do que o esperava. Abriu-lhes a porta.
Bom dia. Entrem, disse-lhes ele.
Pediram licença e entraram.
Sentem-se, estejam à vontade, voltou a falar.
Sentaram-se as três no sofá grande ocupando todo o espaço do mesmo.
Tomam alguma coisa para beber, perguntou-lhes.
Responderam que sim em unícero.
E o que vai ser, perguntou ele.
Um whisky com gelo, voltaram a responder as três em plena sintonia.
Mas só tenho do barato. Pode ser,
perguntou-lhes.
Sim, voltando a responder em unícero.
Colocou uma música relaxante e foi preparar as bebidas.
Discutiram sobre proposta que o homem lhes tinha oferecido e as três aceitaram com uma condição, que se e quando quisessem partiriam e iam de novo às suas vidas. Ele aceitou.
Ficam já hoje, perguntou-lhes.
Sim, responderam elas.
Já estava tudo preparado, um quarto para cada uma delas. Susana ficava no quarto ao lado do escritor, Maria no quarto em frente do escritor e Isabel no quarto em frente ao de Susana.
Passaram o dia todo a conversar sobre as suas vidas, conversas banais.
Ao jantar comeram massa com carne estufada e cogumelos, e uma salada para acompanhar. Viram um pouco de televisão e foram-se deitar.
A meio da noite o escritor acordou para ir à casa de banhho, e enquanto passava pelo quarto de Isabel reparou que a luz estava acesa e que a porta estava entreaberta, não resistiu à curiosidade e espreitou, ela estava a dormir de barriga para baixo e só em slips, não usava soutien, o que não era de estranhar, mas dormia sem cobertores, o que com o calor que se fazia sentir tambem não era de se estranhar. Sinceramente ficou a observá-la uns bons minutos, como que obsecado pelas suas belas curvas, dormiu a sonhar com ela.
De manhã acordou com Isabel na sua cabeça, o coração quase que lhe saltava fora do peito, acalmou-se um pouco e foi tomar um duche de água fria para ver se se recompunha.
Ao sair do banho Isabel estava lá, gaguejou e pediu-lhe que passa-se a toalha, foi a primeira coisa que saiu. Ela sorriu e passou-a. Ainda esperou um pouco para ver se ela saía, mas nada, então pediu-lhe, mas ela disse que gostava de ficar a ver. Deixou.
És um bocado timido, afirmou ela.
Talvez, respondeu ele.
Olha, vou tomar um duche, se quiseres podes ficar aí a observar, disse ela.
Nem hesitou. Quase que lhe saltava o coração de novo fora do peito enquanto ela se ia despindo, nunca tinha observado tal coisa, tal mulher, assim, assim como não dá para explicar, na sua cabeça ele quase que a "comia" toda, enquanto ela parecia manter uma calma do outro mundo. A meio do duche ela pediu-lhe que lhe passá-se o sabão, quando ele lhe o ia a entregar ela agarrou-o pelo braço e puxou-o para junto dela, beijáram-se e tocáram-se...


 
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franciscopeixoto
 
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