Crónicas : 

Um mundo sem poesia.

 

Fui viver num mundo sem poesia, onde a beleza cede lugar á ganância onde seus valores invertidos, prevalece o ter sobre o ser. Fui viver num mundo onde ao me olhar não via senão uma pálida imagem de mim mesmo, olhos perdidos em negócios, fui viver num mundo em que na perene busca de encontrar a felicidade comprada, perdi você e me perdi de mim.
Fui viver num mundo onde na busca da fortuna material, me encontrei próximo á morte do espirito não vendo que nesta busca infeliz, estavam matando o mundo. Fui viver num mundo de mulheres sem carinho, de homens sem solidariedade, de sexo pelo sexo, luxuria pela luxuria, sem amor ou carinho. Fui viver num mundo que colocou em meus olhos, uma solidão e um sofrimento tão grandes que ao olha-los, sufocava a alegria de qualquer ser humano provido de um mínimo de humanidade.
Fui viver num mundo que me tirou a vontade de viver, e passei a “desviver” cada dia contando ao inverso o que a vida me reservaria num futuro que não pretendo ver. Invisível passo pelas pessoas que não vêm, mas me sentem que não encaram, mas sabem da minha presença. Medrosas de encararem meu olhos despidos de vida e esperança, perderem a felicidade que compraram e não sabem usar, outros se acostumaram a não enxergar e enxergando não querem ver. Sou aquela alma perdida na sarjeta, destroço humano cuja imagem de homem, velho, mulher ou criança, drogado ou não, consideram o rebotalho da espécie, o lixo da cidade. Vivo no mundo dos vencidos sem querer ser vencedor, que um dia teve a esperança de ser feliz. Onde se encara a vida como uma disputa em que todos querem ser vencedores, esquecidos que vencedor é sempre um só... o fim da vida, o fim dos sonhos. Ninguém olha poucos vêm, vivo num mundo desprovido de humanidade, o mundo dos esquecidos.
Carlos Said
Inverno de 2008


 
Autor
Carlos Said
 
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