Poemas : 

NA MORTE DE SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESSEN

 
"Com a voz nascente a fonte nos convida
A renascermos incessantemente
Na luz do antigo sol nu e recente
E no sussurro na noite primitiva."

(poema de Sophia)


não devias dormir agora sophia
esperasses mais um pouco
ainda não atravessei o mar
ainda não beijei teus olhos verdes
não segurei tuas mãos em conchas
mas esqueci todos os meus poemas de amor
no entanto dormes sophia
e as notícias do teu sono chegam-me de longe
num navio fantasma
mas sei que já não és mais uma mulher
e sim uma criança
transformada em calmaria
porque a morte enfim nos dá o direito
do retorno à infância
pena que o tempo de viver seja tão breve
anunciam-te morta sophia
não não não estás morta
eu sei que não estás
estás apenas preparando
um poema para a eternidade
mas ninguém percebeu isso

enquanto dormes

______________

júlio, na morte da poeta


Júlio Saraiva

 
Autor
Julio Saraiva
 
Texto
Data
Leituras
1792
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
10 pontos
10
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Sergio de Sersank
Publicado: 07/11/2010 18:03  Atualizado: 07/11/2010 18:03
Super Participativo
Usuário desde: 13/01/2010
Localidade: Londrina-PR BRasil
Mensagens: 159
 Re: NA MORTE DE SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESSEN
Parabéns pela beleza e suavidade destes teus versos que nos remetem à figura ímpar da imortal poeta portuguesa Sophia de M. B. Andressen.
Abraço,
Sergio Sersank


Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 07/11/2010 18:59  Atualizado: 07/11/2010 18:59
Colaborador
Usuário desde: 29/10/2008
Localidade: guimarães
Mensagens: 7238
 Re: NA MORTE DE SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESSEN
Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa

(mais um da sophia,para quem a queira ler.fico feliz por gostares dela.por lhe escreveres assim...como queria escrever-lhe também."falar" com ela.ser-lhe íntima.através das palavras ou dos silêncios e daquela humanidade que permeia raros olhos,e que os impregna de vida,mesmo na morte ou na ausência ...)

beijo.um a ti.outro à poesia.




Enviado por Tópico
Amora
Publicado: 07/11/2010 20:24  Atualizado: 07/11/2010 20:24
Colaborador
Usuário desde: 08/02/2008
Localidade: Brasil
Mensagens: 4705
 Re: NA MORTE DE SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESSEN
Você, Júlio, nos faz leitores de uma angustia tão especial que pode se dar ao luxo de ser um dos poucos a ter razão poética para praticar o nome MELANCOLIA, substantivo esse tão mal interpretado. Digo não somente por essa ode à Sophia de Mello, mas também por todas as outras, sombras da morte que nos almeja.
Um beijo.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 07/11/2010 23:50  Atualizado: 07/11/2010 23:53
 Re: NA MORTE DE SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESSEN
Júlio,

Aqui vai uma das possíveis respostas de Sophia a
este belo poema:


UM DIA


Um dia, mortos, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.

O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E há-de voltar aos nossos membros lassos
A leve rapidez dos animais.

Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nós germinará a sua fala.



Sophia de Mello Breyner

in GRADES, Publicações Dom Quixote, Novembro de 1970.

DM