Poemas : 

Abismo

 
Abismo
 
De mim e de nós...
Vício...
“Entorpecente, substância que devasta.”
Lança sem dó o coração... Rasga...
E faz, em jorro, derramar toda a minha alegria...
Sem nada, de mim, sobrar.
Intacto nada, nada fica...
Sangrento veio escorre,
Sinto-me assim: esvaindo-me toda...
Lutar não luto.
Fico de luto;
Alma sucumbida...
O olhar no nada,buscando distraída o lugar..
Lugar incomum... Onde sei que mora a vida.
... E assim: cambaleante...
Bebo todos os sabores deste vinho que não me dá prazer.
De um lado para o outro, na escuridão do descontentamento...
Sigo-te, persigo-te... Vício...
Levas-me ao fundo do mais escuro poço.
Arrastas-me contigo neste abismo e eu me perco...
... E peço socorro...
Nenhuma voz, nenhum simples sinal...
Meu deserto; morrestes comigo?
Fiquei eu, de ti, no total desabrigo, onde vaga, vagueio...
"Num soluçar perdido..."
Aguço-me, aguço-te, sem resposta em completo perigo
A vida fica tarde, o Sol desmaia nos ponteiros do nosso tempo...
O calendário me diz que caminho e tropeço nas mortas horas de mim e de nós...
Meu ópio... Droga "BENDITA" que inalo e por ela choro...
Meu calvário, minha dolorosa cruz.
Meu contraditório santuário, onde, só em ti, encontro perdida a paz que busco.
Neste penar, inalo-te ofegante até os fragmentos que de nós sobraram...
Minha fonte de ar inconfundível.
Meu cálice de misto e raro sabor... Degusto...
Sorves e esbanjas em teu silenciar um aroma que só sinto quando é primavera em mim...
E das "orquídeas que cultivo és a mais bela" imagem que guardo nos olhos do meu silente amparo... Me desamparas...
Minha capela secreta feita de pedras no deserto de mim...
Rezo....
Uma oração que a natureza escuta e apenas, "cala"...
Meu caminhar nas sombras ...
Meus pés cravejados de espinhos doem... Como doem...
GEMO...
Estou cansada, sinto- me mal...
INVADO A FRESTA...
E pela janela da minha paz sem calma, saio a te buscar em vão...
Não me dás paz... Nem abrigo... Nenhum compasso para meu perdido destino...
És o naufragar onde velejo e morro...
Meu inseguro porto, onde sem saber mudar os ventos não velejo...
AGUARDO...
Insaciada,
Insana,
Apática, o Sol que me queimará esta ferida...
E resumirá a cinzas como um santo bálsamo este meu, de ti, vício...

(Ednar Andrade).


"O Poeta precisamente só o será quando a sua imaginação for além da imaginação do Universo".

(António Maria Lisboa)


http://www.ednardocemisteriodavida.blogspot.com

 
Autor
ednarandrade
 
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