Prosas Poéticas : 

Sublime Prazer

 
Começas por sentir prazeres estranhos.
Sorris quando vês sangue, sentes a injecção de adrenalina ao fenderes a pele.
Furas, rasgas, arrancas pedaços.
Já arrancaste dedos. Os mindinhos dos pés, que são completamente inúteis e não roubam mobilidade. Ainda assim, prazer. Êxtase.
Fazes um olho sair da orbita, partes em gomos.
Porquê em gomos?
Porque não?
Deixas o outro intacto, não há necessidade de cegueira total.
Sempre que abres uma ferida, chegas-lhe um ferro em brasa de seguida. Não vá morrer de hemorragia.
Nasce-te no peito a extrema vontade de arrancares um braço ou uma perna. Teria de ser com muito cuidado, com atenção cirúrgica. Não poderia haver falhas, por isso não arriscas. Outro factor que te impede é a mobilidade e a autonomia, ficariam condicionadas.
Por esta altura, quando já andam dois dedos pelo chão, quando há um braço a lembrar um tabuleiro de xadrez por causa dos pedaços de carne arrancados e por teres queimado o que ficava, quando já tens gomos de um olho espalhados pela mesa, quando existem múltiplas fendas no peito, quando já estás cansado disso, surge a vontade de cravar uma faca no peito e acabar com tudo.
Mas não findas aqui.
Aqui; aqui é apenas o começo.

Tu começas assim, com auto-mutilação.
Depois deixas sarar e passas a brincar com os outros.
Sublime prazer.


"ser Poeta nao e' escrever A-B, A-B!"

 
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kakocastro
 
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