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Para os que virão (Thiago de Mello)

 
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Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.

Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.

Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular - foi deixando,

devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
- muito mais sofridamente -
na primeira e profunda pessoa
do plural.

Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.

É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.

Se trata de ir ao encontro.
( Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros. )
Se trata de abrir o rumo.

Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.

Thiago de Mello, poeta brasileiro, In: Poemas preferidos, Ed. Saraiva.

Arte: Robert Gonsalves, artista plástico canadense.
 
Autor
AjAraujo
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Enviado por Tópico
Ghost
Publicado: 20/05/2011 14:05  Atualizado: 20/05/2011 14:05
Colaborador
Usuário desde: 09/04/2011
Localidade: Lisboa, Portugal
Mensagens: 1820
 Re: Para os que virão (Thiago de Mello)
Um poema cheio de palavras certas e verdades.
Pois não vale apenas ser só um, viver na solidão... Juntos somos a força, juntos somos melhores.
Abraços e Felicidades.