Poemas : 

[Andança: Trilhos para o Mundo]

 
[Se eu não revisitasse sensações minhas, aconteceres do mundo que se absurdaram aos meus olhos, eu enlouqueceria...]
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Noite quente, sufocante...
Esses trilhos brilham ao luar
na solidão da gare vazia da Estação.
Brilham como linhas extensas
que se perdem na escuridão,
e presentificam sua dureza brilhante,
absurdamente lisa... lisa do constante
atrito entre aço e rodas de aço...

Há nesses trilhos uma crueza...
A minha atenção se consome neles
de uma modo obsessivo — é impossível fugir
à essa atração que arrasta o meu olhar
para onde... algum lugar esquecido,
ou para tempos despertencidos de mim!

Junto à linha, o cheiro de óleo diesel
mistura-se à emanação da terra molhada,
e me traz uma estranha evocação,
um tempo que não sei se vivi,
ou se apenas o terei sonhado,
alguma perda, em alguma época...

De repente, tenho uma vontade absurda
de me lançar rumo ao nada da escuridão;
jogar-me na linha do trem, arrastar-me
sobre esses trilhos até o inferno distante,
onde, com certeza, essa linha termina,
onde terminam todos os trilhos do mundo!

[... e da velha Minas, mais precisamente do ponto de encontro de duas grandes ferrovias que cortavam os nossos rincões, a planura das grandes chapadas... verte o mundo até hoje!]
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[Penas do Desterro, 18 de outubro de 1998]
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[da minha coletânea "Cavalos da Noite" - ilustrada por Paula Baggio]

 
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crstopa
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Enviado por Tópico
Paula Baggio
Publicado: 25/07/2011 21:40  Atualizado: 25/07/2011 21:40
Da casa!
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