Ao longo desta estrada empoeirada, viajei,
léguas tiranas, janeiros a fio.
Meu juízo o sol calcinando,
minhas vistas anuviando
d´água salgada do coco da cabeça a escorrer
até findar-se nos olhos,
deixando a goela fumegante.
Peregrina caminhada,
rachante de solado de calcanhar
nas alprecatas de couro cru montado,
resistentes a carregar na via crucis catingueira
este corpo murchado pela idade
e sulcado pelo brasor do estio quase perenal.
Octogenário corpo, cansado,
comedor de pó das estradas,
teimosamente carregando ao ombro
- da matina à quebrada da tarde,
a enxada abridora de covas,
enterradora de sementes
e cobridora de corpo.
Jadson Simões
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Re: VIA CRUCIS
