Foi num dia assim, de solarenga invernia
ao som das badaladas da torre que foi a enterrar.
À frente seguia o carro fúnebre numa marcha compassada
pelo motor rocinante e cansado de choros.
Atrás a família chegada lamentava-lhe o funesto fim,
o quanto lhes eram chegados,
o quanto gostavam de o ter ali ao pé,
como era jeitoso e cúmplice nas horas vagas:
- Coitadinho que assim se foi…- Diziam uns.
- Foi-se como um passarinho…- Diziam outros.
E a marcha fazia-se imperturbável rumo à última morada.
Mais atrás a turba da grei feita gente
com os chorrilhos do costume.
Todos a dizer bem do defunto
que assim se chegava à terra
em quatro tábuas adornado.
-Eu nunca precisei dele mas gostava de o saber ali,
não incomodava ninguém.- Diziam quase todos.
Ao lado os curiosos viam o féretro passar
sem melancolia nem nostalgia,
alguns com vontade até de aplaudir
a morte tardia da vetusta figura sem utilidade.
Nem na morte agradamos a todos!