Sinto o cheiro incandescente do teu seio
A me embriagar.
Desfigurando a destreza do meu ego
Em manipular.
Esvaindo meu orgulho cego
Ao me dobrar.
Sigo, então, sem ter forças contra o seu elo
Ao acarinhar.
Dedicando meu esforço e meu credo
Pra te eternizar.
Te apertando forte contra o peito
Pra te confortar.
E de graça alterando a ordem do desejo
Esperando você chegar.
E o sol nasce, e a terra gira
A me elucidar,
De que o apego a louca mentira
De te eternizar
Mantém-me na rotina
De canonizar
O desejo delinqüente do meu "eu"
A me sufocar.
E no luto deste tédio ritmado
Quebro ao gosto desvairado do pecado
A máscara do normal e aceitável.
Encarrego-me das ferramentas da Reforma
E miro o martelo e o prego
A te crucificar.
Deito por terra
Meu suor e meu credo
Pra te batizar
No sangue pisado do nosso castelo
A desmoronar.
Entregando nosso espírito e elo
Pra te santificar.
E após o choro e a carnificina,
Vendo teu rosto pálido
E sôfrego de menina
A me contemplar,
Arranco tua armadura de mulher pra te ressuscitar.
E sinto novamente o cheiro incandescente do teu seio
A me embriagar...
"A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito." Manoel de Barros