Poemas : 

A Solidão do Barqueiro

 
É olhar quem passa,
quem chega,
quem se arrasta,
deserto de outra margem
num intimo penar!
Olhar dentro da Alma,
nesse infinito mar
que não tem calma.
Quantos escolhos,
entre tantos a soçobrar! ...
A dor que passeia
ninguém a sente,
solidão, dor, imensidão ...
Destino a despontar,
aqui, desilusão,
além, saudade ...
Dia-a-dia adversidade,
remorsos soluçando
por nunca haver amado,
p'la Vida ter partido,
por nunca ter chegado!
Onde?! Onde?! ...
Por quem espera o tal barqueiro
em infinita solidão ?! ...
Tristeza encoberta
no intimo do peito,
mágoa, pena, ilusão,
margem deserta, sem jeito,
sem rosto, nem perdão.
Secreto, mudo,
pesadelo não olvido,
máximo desgosto!
- É mister:
não pode havê-lo
tão sentido ...
O desgosto imposto e sofrido,
no seu olhar gelado,
pelo Tempo perdido ...


Ricardo Louro
Chiado/Lisboa

Ao Barqueiro que conduz as Almas de uma a outra margem da existência - Caronte - a "eterna" Lua de Plutão ...


PARA SABER ...

Caronte era na mitologia Grega o barqueiro de Hades (Plutão), responsavel por conduzir as Almas dos recém-mortos sobre as águas pantanosas e nauseabundas dos rios Estige e Aqueronte que, dividiam o mundo dos vivos do mundo dos mortos. Caronte era filho de Nix, a Noite. Conta a mitologia que, quando Caronte tentou roubar a caixa de Pandora foi surpreendido pelo próprio Zeus que, o castigou, mandando para o Érebo, onde deveria, pela eternidade, conduzir as Almas dos mortos ao outro lado da Vida. No inicio, esta função era partilhada com o irmão gemeo, Corante. Cada um utilizava um dos remos da barca e dividiam as moedas trazidas pelos mortos. No entanto, Corante desconfiava de Caronte ao perceber que as moedas escassavam cada vez mais, e quando o confrontou, Caronte revoltou-se contra o irmão iniciando uma guerra que viria a durar cerca de 13 meses. Diz-se, que, durante esse tempo, os mortos perambulavam pela terra, pois não havia quem os conduzisse ao outro lado da Existência. Ao 365º dia, Caronte mata o irmão, Corante, afogando-o no rio. Nesse instante, o corpo de Corante dissolve-se nas águas tingindo o rio de vermelho. E Caronte torna-se definitivamente no solitário e eterno barqueiro das Almas. Caronte só transportava na sua barca quem estivesse morto, quem lhe trouxesse a moeda esperada ou quem possuisse um ramo de acácia, arvore consagrada a Perséfene, deusa raptada por Hades (Plutão) para ser sua esposa ... Dizem que recebia no seu barco pessoas de todas as espécies, herois magnanimos, jovens e virgens, tão numerosos quanto as folhas de Outono ou os bandos de aves que voam para Sul quando se aproxima o Inverno. Todos se aglomeravam querendo passar, ansiosos por chegarem à margem oposta, mas o severo barqueiro, somente levava aqueles que escolhia, empurrando os restantes para trás. Em Astronomia, Caronte é uma Lua de Plutão. Em Astrologia é, no Ser humano, a passagem do corpo à Alma, dos desejos "in carne" à consciência "in spiritus". O eterno vai-e-vem que nos precede desde toda a eternidade...


Ricardo Louro


Ricardo Maria Louro

 
Autor
Ricky
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1988
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