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Zeco, o órfão - cap. VI

 
ZECO, O ÓRFÃO
Capítulo VI
Os Milhões
Amanheceu chovendo. Chuva forte, com relâmpagos e trovoadas. Zeco despertou às 8 horas. Logo se lembrou de que Maurício chegaria por volta das 9. Levantou-se e se encaminhou ao banheiro. Após o banho, vestiu-se e desceu para comer alguma coisa. Estava em meio ao desjejum quando a campainha soou. Apressadamente se dirigiu ao portão. Maurício estava molhado, totalmente ensopado. Entraram e Zeco o levou ao quarto que era de Alfredo Flores.
- Veja, pai Maurício, aí tem muitas roupas que eram dele. Há roupas novas que nunca foram usadas. Escolha uma e vista, você parece um pinto...
- Escolhe você, o que me der, eu visto.
Maurício foi para a suíte onde se despiu e se enxugou. Num segundo Zeco lhe trouxe roupas limpas, inclusive uma cueca.
- Pode vestir, esta cueca é das novas, ele nunca chegou a usá-la, ainda estava na embalagem.
Logo Maurício Carvalho estava enxuto e devidamente vestido com roupas finas.
- Eu estava tomando café – disse Zeco – quer comer alguma coisa?
- O que você estava comendo? – Indagou Maurício.
- Frutas e cereais. Quer?
- Quero.
Desceram abraçados. Na cozinha se forraram de alimentos e se estabeleceram na sala. Uma longa conversa deixaria Maurício totalmente a par da vida do filho caçula. Zeca tudo lhe contou, nada escondeu.
- E você está com todo este dinheiro dentro de casa? – Perguntou Maurício, estupefato.
- Estou. Venha, vou mostrar-lhe.
E o levou até o quarto que era de Alfredo Flores. Abriu o guarda-roupa e o cofre. Maurício ficou babando, pois, nunca estivera diante de tanto dinheiro assim.
- Isto é uma loucura, filho! – Desabafou.
- Também acho, mas como já lhe disse, não há como tentar restituir estes valores, seria inicialmente pôr minha vida em risco, depois a quem deveria devolver?
- Realmente. Você não me perguntou até agora em que trabalho. Eu afirmo: sou agente de polícia. Aquele que o criou como filho dele era um gênio. Ninguém nunca soube , nem sabe a identidade do COIOTE. Ainda é procurado pela Interpol, pela Polícia Federal do Brasil, pelo FBI e CIA. americanas e outras polícias pelo mundo afora.
- Você pretende revelar em público o que descobriu aqui? Pretende dizer quem era o COIOTE? - Questionou Zeco.
- De forma alguma, filho. Isso vai morrer conosco: comigo e você. Ninguém mais deverá saber... Nem mesmo sua mãe e seus irmãos. Vamos enterrar este segredo.
- O que diremos sobre o dinheiro que aqui guardo? – Quis saber Zeco.
- Faremos uma reunião familiar: eu, você, sua mãe e seus irmãos. De qualquer maneira nossa vida vai mudar, em todos os sentidos.
- Que vai, vai... não há dúvidas!
- Também não podemos colocar este dinheiro em banco, não teríamos como justificar sua procedência. Ele ficará onde está, sob sua guarda, já que é seu.
- Na medida em que formos empregando, vamos retirando do cofre. Concordo! Mas ele não é meu somente, é nosso meu pai, é da família inteira.
- Parece um sonho, Zeco... E tem mais: acredito que exista mais dinheiro escondido aqui dentro de casa. O COIOTE era bandido internacional, certamente há dólares, euros e muito mais muito bem camuflado. Precisamos desvendar isso.
- Meu Deus, pai Maurício, que loucura!
E correram para os braços um do outro.
- Virar milionário do dia para noite não é para qualquer um. – Brincou Maurício.
- Exatamente. Vocês virão todos morar aqui. Meu quarto é suíte: fica para você e minha mãe Mercedes. Aqui neste quarto, tomando conta do dinheiro fico eu e meus irmãos se instalam nos outros. Todos têm ar-condicionado e banheiros privativos. Isto aqui é uma mansão e está em meu nome. Tudo ele colocava em meu nome, acho que por medida de segurança. –Explicou Zeco.
- Com certeza, meu filho. Era um homem inteligentíssimo... apesar de bandido, eu era fã dele. Fora os parceiros que matou porque conseguiram identificá-lo, ele jamais feriu quem quer que
seja em seus assaltos, agia com a cabeça. Tudo preparado com muita argúcia, tudo adrede preparado, um gênio.
Zeco levantou-se e retirou do cofre cerca de trinta mil reais. Entregou-os ao pai.
- Use isto para pagar a um bom advogado e fazer o exame de DNA. Vamos resolver logo estas coisas. Não vejo a hora de ver todos juntos aqui... – Disse Zeco.
- Você tem um coração de ouro, meu filho. Ele deu a você excelente educação. Neste aspecto ele está de parabéns.
- Concordo com você. Ele era um homem dócil, era louco por mim, amava-me mais que tudo. Era muito amigo e eu o amava. Tudo o que fazia era sempre pensando em mim. Tudo!
- Sim, meu filho, ele o amava, quanto a isto não há dúvidas!
- Você dirige, pai Maurício?
- Sim, só não tenho carro...
- Não tinha, agora tem cinco... Venha ver os carros na garagem, todos importados e, como sempre, em meu nome.
Chegaram à garagem. Maurício não podia crer no que estava vendo...
- Uau! Filho, quanta riqueza!
- Pois é, tudo o que aqui existe é nosso.
E pegou a chave do Civic e lhe deu.
- Comece com este, por enquanto, chama menos atenção.
- É verdade.
- E a casa lá onde vocês moram?
- É alugada, meu filho.
- Venham todos para cá, imediatamente. Não precisa esperar que o jurídico resolva, venham hoje mesmo. Tragam apenas o indispensável, coisas pessoais, o restante tem aqui e de sobra...
- É verdade, é verdade. Nossos móveis, doarei todos. Só traremos nossas roupas e coisas pessoais intransferíveis...
- Exatamente! – Concordou Zeco.
Maurício se despediu do filho e foi embora, já dirigindo o Civic. Zeco ficou se preparando para ir à escola. No colégio teria uma conversa com Dona Prazeres e a deixaria por dentro de tudo, menos sobre a fortuna e sobre a identidade do COIOTE. Foi o que fez.
- Santo Deus, Zeco, estou petrificada!
- Também fiquei, Dona Prazeres. Foi muita coisa que aconteceu, tudo muito perto uma da outra.
- E vocês não vão denunciar a enfermeira? – Perguntou Dona Prazeres.
- Não – respondeu Zeco – não carece. Nós a perdoamos, desde que ela nos deixe em paz.
- É um crime bárbaro – muitos anos de cadeia.
- Sabemos disso, porém ela teve seus motivos. Era pobre, o pai quase morrendo e ela a precisar de dinheiro para salvá-lo... não, ela está perdoada, só desejamos ela bem distante de todos nós. Uma nova vida começa para mim agora. Não vou sair da escola e meus irmãos virão estudar aqui, também...
- Respeito e decisão de vocês, estão a olhar os fatos por outro ângulo, perfeitamente compreensível.
Tudo aconteceu conforme combinado. Dois dias depois toda a família estava na mansão em companhia de Zeco, que era todo alegrias. Pablo e Luciano pediram transferência da escola pública onde estudavam e foram matriculados na mesma escola em que Zeco estudava. Maurício Carvalho resolveu tudo às pressas, como Zeca pedira. Doou todos os móveis da velha residência e entregou a casa. Trouxeram somente os objetos de uso pessoal e roupas. Entrou com um pedido de licença na repartição e como tinha mais de dez anos de serviços prestados, ganhou Licença Prêmio, seis meses para ajeitar-se a adaptar-se à nova vida. Contratou um bom advogado e procederam ao exame de DNA. O resultado todos já esperavam: ficou definitivamente comprovado o que já sabiam. Isto foi primordial para que o juiz desse sentença favorável, sem discussões, porque estavam perante as evidências. Zeco foi reconhecido oficialmente como filho de Maurício e Mercedes. Pôde inclusive tirar uma nova certidão de nascimento, todavia preferiu manter o nome completo normal, apenas acrescentando Carvalho. Todos se acomodaram na mansão conforme Zeco propusera e viviam em grande harmonia.
Determinada noite Zeco acordou no meio da madrugada. Despertou totalmente e com uma ideia fixa na cabeça. Abriu o guarda-roupa e começou a fuçar o chão dentro do móvel. Mexe pra lá, mexe pra cá e... grande descoberta! Havia um fundo falso lá no canto da parede. Conseguiu retirar uma tampa e logo se viu diante de um buraco e dentro... uma grande caixa lacrada. Estava sem cadeado e sem fechadura. O conteúdo não poderia ser outro...
“ Meu Deus, disse para si mesmo, bem que pai Maurício falou. – repensou – quanto dinheiro!”
Levou a grande caixa e a abriu sobre a cama. Derramou todo o seu conteúdo. Eram maços e mais maços de dólares e euros... uma fantástica fortuna! Mais uma vez pensou consigo: “Deus meu, que fazer com tanta grana?”
Eram 3 horas da manhã. Zeco não suportou e foi até o quarto do pai. Entrou vagarosamente para não acordar Mercedes. Chamou...
-Vem comigo, pai, vem ver o que descobri!
Maurício levantou-se num átimo. Foi com Zeco ao quarto dele. Ficou estarrecido.
- Misericórdia! – desabafou – eu não disse que havia mais dinheiro escondido? Onde você o encontrou?
Zeco tudo relatou.
- Um sonho! Que sonho milionário!
E o abraçou.
- Vamos manter as aparências – disse Maurício – isto é segredo nosso. Vamos pensar em como empregar esta fábula sem despertar a atenção dos outros...
- Com toda a discrição possível. Não podemos dar “bandeira”, caso contrário estaremos todos em maus lençóis e com nossas vidas em risco. – Rebateu Zeco.
- Tremenda provação Deus coloca em nossas mãos, porém vamos saber passar por elas.
Zeco juntou tudo e recolocou no mesmo lugar. Despediu-se do pai.
- Vá dormir, pai. Amanhã conversaremos. Ideias não nos faltarão...
Maurício beijou o filho e voltou à sua cama. Mas dormir? Como conseguiria? O dia amanheceu e, com ele, novos planos para o futuro da família.
FIM DO CAPÍTULO VI
AMANHÃ - CAPÍTULO FINAL DESTA NOVELA

 
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imelo10
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