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MANUELA DIVIDE OPINIÕES

 
MANUELA DIVIDE OPINIÕES
 
Manuela Divide Opiniões


Manuela agora morena, atraía a curiosidade dos fregueses da lanchonete. Aumentou em uma semana de trabalho, a renda do estabelecimento.
O gerente estava satisfeito e até agradecido ao Dr Alejandro, por tê-la indicado.
Todos queriam dar uma espiadinha na morena forasteira, que viera se estabelecer na localidade...
Sem falar no "disse me disse", que ela criara em torno de si:


Contra as chamadas "normas" da sociedade da época, uma mulher que vivia no mesmo teto que o doutor da cidade, sem estar casada com ele, era admirável e ao mesmo tempo ousada...
As más línguas falavam que eles eram amantes.
Mas, até então, realmente nunca foram...
Ela gostava de provocar a atenção feminina, pois sabia que falavam dela.
Então ela criou um jeito de nutrir os boatos: Quando algumas senhoras das mais puritanas, entravam na lanchonete, Manuela desabotoava alguns botões do uniforme que usava, para escandalizar e para rir-se delas depois...

Entretanto, se estivessem homens no local, não fazia isso. Dava-se ao respeito.
Em uma semana de trabalho, recebeu várias investidas masculinas, e ela simplesmente ignorava, fingindo não perceber.


As opiniões estavam divididas a seu respeito:
As mulheres achavam que Manuela era uma libertina, enquanto os homens a achavam uma mulher de fibra e que não cedia às cantadas, ou seja: Difícil.

********************************


Manuela sempre que chegava na fazenda no fim da tarde, corria para fazer o jantar e deixar tudo bem cuidado. Alejandro sentava-se com ela nesse momento, ouvindo suas histórias e ria-se.
Imaginava as expressões que as ditas senhoras, fariam ao olhar para o decote aberto de Manuela...

Foi na outra semana, que finalmente Manuela conheceu a senhora que cuidava da roupa de Alejandro:
D. Eulália.

Uma senhora grisalha, que já estava nos fundos da casa lavando a roupa e passando nos rodízios para espremer. A segunda etapa seria estender no varal, e cerca de 40 minutos de sol quente, retiraria tudo e levaria para a área de serviço, para começar a passar... Era sua rotina de todas as sextas feiras.
Manuela aproximou-se e a cumprimentou:

- Olá, bom dia! A senhora certamente é a D. Eulália. Sou Manuela.
- Ah, bom dia. Sim, eu sei quem a senhora é. A cidade é pequena, todos estão falando sobre a 'forasteira"...
- Sei disso. Tudo é novidade quando numa cidadezinha chega alguém de outras paragens... D. Eulália, vou sair para trabalhar agora. Estou deixando tudo na mesa da cozinha para que faça uma refeição, enquanto espera a roupa secar para depois passar...
- Muito agradecida, mas já venho para cá alimentada. Na minha idade, não se pode sair sem comer, pois dá fraqueza...
- Ah, sim. Bem, de qualquer forma, está tudo lá, caso queira simplesmente tomar um cafezinho e comer uma fatia de bolo...
- Obrigada, não se preocupe comigo.

Manuela saiu dando um aceno. Teve certeza que ela não era mesmo uma pessoa para muitas conversas, mas, algo lhe dizia que era extremamente confiável e sincera.
Como Alejandro dissera mesmo?
"É uma senhora rabugenta, mas no fundo, boa pessoa..."

*******************

Oito meses se passaram...
Um dia, quando Manuela voltou para casa no finzinho da tarde, teve uma surpresa ao encontrar Alejandro em companhia de uma mulher bonita aos beijos e amassos na sala.
Passou sem ser notada pelos dois, subindo as escadas para seu quarto.


Não queria incomodá-los, mas, precisava fazer o jantar.
Tomou banho, trocou de roupa e desceu novamente, passando diretamente para a cozinha.
Alejandro ao escutar o movimento de panelas e pratos, percebeu então que ela já estava em casa.
Pegou a mão da mulher com quem estava, e a levou para a cozinha para que fizesse as apresentações.
Foi uma noite de provocações...

- Manuela, quero que conheça Esmeralda Santiago, minha namorada.
- Olá, Esmeralda! Boa surpresa tê-la para o jantar. Espero que goste do que estou preparando.
- Se você trata bem o 'meu' Alejandro, tudo que fizer, eu vou gostar com certeza.
- Ele é um bom amigo. Trato-o muito bem, não é mesmo Alejandro?
Ele percebeu que ela não queria ser tratada como uma "hóspede que cozinha" perante Esmeralda, então afirmou:
- Sim, nos damos muito bem, você é uma amiga para todas as horas.

Esmeralda meio incomodada com os olhares de cumplicidade que havia entre eles, disse então:

- E seu marido, morreu há muito tempo? É muito bonita, não tem um namorado?
- Prefiro não falar dele. Quanto à sua pergunta: Não tenho namorado algum. Nessa cidade não há homens que me atraiam... Vamos jantar agora?

" Menos mal, assim não terá nada com Alejandro", pensou Esmeralda.

Manuela foi ajudada por Alejandro, a colocar a mesa.
Esmeralda novamente ficou chateada com a situação.
Durante o jantar, ela tentou arrancar qualquer coisa que dissesse respeito ao passado de Manuela, porém foi inútil. Percebeu que ela não falaria mesmo de sua vida anterior à chegada na cidadezinha.

Entretanto, Manuela sentiu-se vitoriosa naquela noite, porque claramente Alejandro a colocou na posição de amiga, e nunca de uma hóspede.
Sentiu-se grata por isso.

Agora, uma coisa teria que saber pois muito lhe interessava:
Alejandro teria planos de casar com Esmeralda?
Caso isso estivesse em sua mente, Manuela teria que se afastar dali: Ir para um pensionato, ou alugar um quarto com banheiro talvez...

Sondaria sobre isso no dia seguinte.
Alejandro depois do jantar, sugeriu que Manuela escolhesse uns discos para que escutassem.
Ela rapidamente sentou perto da vitrola e se pôs a selecionar algo que fosse agradável.
De vez em quando, observava como eles se beijavam sem se incomodar com a sua presença ali.
Dessa vez, foi ela quem se sentiu incomodada...
Pensou então resoluta: Teria que decidir seus caminhos o mais rápido possível...

Fátima Abreu




 
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FátimaAbreu
 
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