Poemas : 

Fractais

 

não houve objeção,
sequer o vento rebateu
o olhar da janela
dividindo-se
pra resgatar marcas
multiplicadas na estrada
crescida da separação.

nas pegadas o silencio
foi pingando
aceitação antecipada do pedido;
passos sem ecos
pro vento devolver

ruiu o tempo ao ver
pés multiplicando-se
pra sumir.

não se sabe dizer
se o pó amarelo do horizonte
é a fragmentação definitiva
de uma história escrita em páginas
aleatórias
sem a sustentação
de um livro que a segurasse no ventre

só se sabe dizer
é que o vento rodopia um tom
hepático
deixando o céu carregado
de pó
derramando-se nas abas da janela
consolidando um peso
ardido de lama
que emperra sem deixar fechar
e ao mesmo tempo veda
sem que a janela possa mirar
a nesga azul se abrindo


Aquela mania de escrever qualquer coisa que escorrega do pensamento.

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Autor
MarySSantos
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 09/10/2014 19:27  Atualizado: 09/10/2014 19:27
 Re: Fractais
Mary

Existem coisas que estão muito para lá daquilo que a própria ciência é capaz de explicar!

Muita subtileza. É um gosto, ler-te.

Beijo


Enviado por Tópico
Gyl
Publicado: 10/10/2014 01:18  Atualizado: 10/10/2014 01:18
Usuário desde: 07/08/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 16075
 Re: Fractais
É tanto o lirismo e o estilo é tão teu, que eu acabo que me perco no pó deste horizonte que trava portas e janelas. Bom demais, Mary. Abraços, querida!


Enviado por Tópico
ManoelDeAlmeida
Publicado: 10/10/2014 08:58  Atualizado: 10/10/2014 08:58
Colaborador
Usuário desde: 30/05/2011
Localidade: Campo Grande/MS - Brasil
Mensagens: 834
 Re: Fractais
Minha leitura vê uma pessoa, talvez mulher, muito triste e pensativa numa janela, olhando para o horizonte onde a pessoa amada desapareceu deixando-a, tão ela fica filosofando com os elementos daquela tarde triste: vento, horizonte, o tempo, a poeira (pó amarelo do horizonte).Gostei muito.