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Alter-ego

 
Alter-ego


Passei dias a escrever, meus punhos rachados doem por tanto tive que escrever, o desespero me fez passar por isso enquanto meu estômago soltava risinhos, mas ainda tinha alguns pães que haviam ficado duros que a Dona Ziza havia me dado. Era uma senhora muito gentil, não podia negar! Era uma senhora viúva que morava no andar a cima do meu, seu quarto era tão antigo quanto ela, era todo empoeirado e cheio de quinquilharias que dariam para montar um belo antiquário, e com certeza teria muito dinheiro, pois tinha belos quadros grandes que ocupavam uma parede inteira, com molduras que mediam a palma da minha mão. Tinha tapetes compridos todos bordados com curvas sinuosas e agradáveis de se ver, deviam custar uma fortuna tais tapetes, os moveis eram todos no estilo barrocos, com muitos detalhes e bem volumosos, entretanto, todo empoeirado, isso tirava a vivacidade destes objetos. Em uma das paredes havia um quadro de seu viúvo, Sr.Agostinho que foi exilado do Brasil quando era época de Ditadura militar.
- Ele era um Herói e o mandaram para longe – Ela sempre me dizia com muito orgulho em sua fala e tristeza em seu olhar pelo fato de ele nunca ter voltado. Por vezes eu saia do meu quarto para pegar um ar e tentar ter uma nova idéia para escrever, como eu poderia estar sem idéias, eu sou Bazesko, Carlos Bazesko, ó escritor, o que Drummond, Morais, Buarque, Assis iriam pensar se soubessem que sou um fracassado, um inútil que não tem uma idéia que preste, o que pensariam, bateriam em minha face com a mão fechada até cair ao chão e depois me chutariam e iriam dizer:
- você nos envergonha, seu filho da puta! Você não é escritor! Desista! Desista! Você não tem sequer uma idéia que preste! Desista! Desista! E me chutariam, sairia sangue da minha boca, por chutes recebidos em meu estomago, mas ainda responderia que seria um escritor, tão grande quanto eles, e eles tornariam a me chutar. Mas eu sou Carlos Bazesko, o escritor, eu sei que dentro de mim a idéia se rebate, se locomove por todo meu corpo podre, como uma parasita atrás de algo. Ela esta dentro de mim, basta apenas o momento certo, isso! Apenas o momento certo, tinha que ser paciente e aguardar apenas! Mas e se nunca chegasse? Cale a boca! Ela estava logo ali! Chegando mais cedo do que nunca, seu tolo! Tu és Carlos Bazesko o escritor! Eu sou Carlos Bazesko! Isso mesmo, revistas publicaram meus contos, meus poemas, meus pensamentos, serão tantas que eu nem ao menos saberia em quais foram publicadas! Mulheres me visitaram meu quarto pedindo ao menos um beijo e autografo! Todos iram me parar na rua e pedirem um autógrafo, isso! Eu sou Carlos Bazesko! O grande!
Pus-me a maquina e retornei a escrever...




CB


Blog PensAlto : Tatuira com Nescau!


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Carlos Bazesko
 
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