Crónicas : 

Velejando, a dor desaparece (Tin Liên Quan)

 
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Ainda que exista a dor no mundo, nós ainda temos o poder se superá-la, de vencer e viver com alegria.

Ela é uma viúva idosa, seu marido morreu após um acidente de carro. Desde então, ela segue indiferente a tudo, não chora, não confia em ninguém, após a perda do marido.

Quase todos os dias, ela fica apoiada na janela olhando sem rumo, já não cozinhe, não cuida do jardim e de sua própria vida também.

Sua filha estava procurando alguns meios de ajudar a mãe a superar este impasse, mas já estava quase sem esperança. Muitos médicos diagnosticaram e trataram sua depressão, mas ainda assim fora inútil.

Um dia, a filha resolveu levá-la a um psiquiatra. Na primeira visita, ela e o médico apenas sentaram de frente e escutaram o outro sem falar. A senhora ainda parecia mais jovem do que a idade que tinha, de 70 anos, mas aparentemente ela já não tinha ganas para viver.

O médico começou a conversa, perguntando por que ela havia vindo ao consultório.
- Meu marido morreu – engasgou em seco e ficou silente por um momento, ela continuou – Olha para filha e diz, “Você quer que eu me sinta aliviada após a morte de seu pai. Mas ninguém pode entender o todo”.

O médico continua:
- Eu entendo, como ela perdeu metade de sua vida. Apenas o marido será capaz de entender a sua perda. E ele também aprendeu o quanto significava a vida de duas pessoas anteriormente felizes.

Ela se virou para ver um médico, retirou os óculos escuros, os seus olhos castanhos escuros, quase impenetráveis, não tinham o brilho de outrora.
- Se agora o seu marido estivesse aqui, o que a senhora diria?

Ela olhou para o médico por um longo tempo e então lentamente fechou os olhos. Ela começou a dizer - como se estivesse falando com seu amado esposo – “ faria tudo por sua vida quando penso que estou sem ele”.

Ela revelou ao “seu marido” os seus nobres sentimentos para consigo mesmo, quando as coisas que antes eles construíram, eram dois batalhadores pela vida. Ela ainda sente muita dificuldade em aceitar que ele realmente não esteja mais lá.

Ela descobriu que há muitas coisas que ele não acompanhou e gostaria de compartilhar com ele... E ela estava chorando, ela chorou muito, como nunca antes havia chorado na vida.

O médico então lhe fez um sinal e lhe perguntou se havia alguma coisa que ela não lhe havia contado? Ela disse que ela estava muito zangada com o marido porque ele, e não ela, teria que viver solitário na velhice? Por que ele não cumpriu sua promessa com ela?

- Ele me ensinou a amar a vida ... - Ela continuou a falar. O médico ficou profundamente comovido e surpreso ao ser confidente, e ouvir o conto de um belo romance de duas pessoas.

- Suponha que ele estivesse sentado aqui, na sua frente, e lhe diga “sou eu”. Ele gostaria de pedir-lhe qualquer coisa sobre sua vida durante os últimos 2 anos? – Então, disse o doutor, vá, “pergunte ao seu médico”. Ela meneou a cabeça concordando.

- Ele iria me perguntar: "Por que você se lembra dele com esta tristeza infinita e vive a atormentar-se tanto assim? O meu maior desejo na vida foi trazer-lhe alegria. "

Quando o médico concluiu a frase, um raro brilho de luz surgiu em seus olhos, a face se expandia em um meigo sorriso. Ela parecia estar de volta para si, como se fora há dois anos.

Através da conversa franca, sincera e da empatia do médico, ela foi gradualmente compreendendo que nem todo sofrimento imerso em lembranças deve se fechar a busca de uma nova vida que siga seu curso, como uma homenagem prestada de um ao outro.

Passara-se um ano, o médico enviou um conjunto de artigos publicados em um jornal local sobre as instituições de caridade nas quais ela estivera ultimamente envolvida – incluindo aquelas que que tinham a inscrição – feita por ela – “Quando no desespero, eu decidi velejar, surfar e velar pela vida”.

Enfrentando cada um de nós a sua dor, a perda inesperada, parece que estamos nos decidindo a escolher a vida novamente. Nós não temos que esquecer tudo, mas o tempo vai curar tudo, e eu me recordo da alegria do amor e não da dor.

Tin Liên Quan, articulista do jornal Phunum Viêtnam, escrito em 2/10/2015, traduzido de forma livre com ajuda de tradutor, com adaptações para o português.
 
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AjAraujo
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