Contos : 

Manhã silenciosa 3 (Capítulo I)

 
Preparava-me para ir almoçar quando Alessandra toca à campainha do meu humilde apartamento, um mero T2 alugado, na cidade de Lisboa. Como homem, muitos podem pensar que a minha casa é desarrumada como o meu cubículo da redação, mas não, é limpa e arrumada.
– O teu apartamento continua na mesma – fazendo uma careta.
– Já sabes como é – respondi com um sorriso, a minha recepção de boas vindas... – Queres almoçar comigo?
– Sim pode ser, o que é? – Questionou-me, sentindo um leve aroma no ar e dirigiu-se à cozinha – Cheira bem.
– Oh, onde vais? – Chamei-lhe a atenção. – Verás quando estiver servido.
Alessandra quando se sentou à mesa, o Pulga aproximou-se sorrateiramente até enterrar o seu focinho rosado no seu colo... – Oh Pulga, és mesmo parecido com o teu dono.
– Comigo?! – Dei uma gargalhada intrigante.
– Sim, contigo – sorriu. – Só querem mimo!
A minha italiana acabara de sair da Universidade, tirou a Licenciatura em Terapia da Fala, sempre foi o seu desejo e nunca desistiu, mas não queria ficar por aqui, queria ir mais além. Eu tirei a minha Licenciatura em Comunicação Social há dois anos.
Já sentados à mesa e a saborear o almoço que preparara, Alessandra sorriu.
– O que foi? – Perguntei-lhe.
– Está perfeito – mencionou, pegou no copo com vinho e deu um trago – perfeito!
– Ainda bem que estás a gostar do meu bacalhau-à-brás – sorri e toquei com os meus dedos nas costas da sua mão...
– Arrepiaste-me – mencionou ao olhar nos meus olhos.
Pisquei-lhe o olho enquanto limpava a minha boca no guardanapo.
“Porque tive esta reação para com ela, tocar na sua mão...?” Questionei-me em pensamentos.
– Desculpa, foi sem intenção amiga.
Alessandra corou.
– Mudando de assunto, o Ricardo vai estar esta noite no Espaço N, terás uma surpresa, não podes faltar.
– Lá estarei – confirmei. – A que horas marcaste com ele?
– Às vinte e uma horas e trinta minutos.
À hora marcada fui buscar Alessandra a casa, o meu espanto quando vejo uma rapariga a descer as escadas do prédio com um vestido vermelho e a dirigir-se para o meu carro. Desviei o meu olhar embasbacado da rapariga e peguei no meu telemóvel. Passados uns segundos bateram no vidro do carro, olhei e estava a rapariga de vermelho a olhar para mim.
– Alessandra...?! – pronunciei baixinho e a gaguejar.
Saí do carro e fui ter com ela, cumprimentei-a com um beijo em cada rosto e reparei que as suas costas estavam à mostra e deparei-me com uma constelação de sinais na sua delicada omoplata.
– Estás linda... – disse-lhe, com a voz a faltar-me – esse batom fica-te bem, até o teu cabelo está diferente. – Constatei com um sorriso.
– Obrigado meu querido – corou, no entanto, depositou um beijo suave no meu rosto.
Enquanto abria a porta do carro para a minha amiga, o meu coração disparou devido àquele beijo inesperado. Quando se sentou reparei na sua pequena tatuagem, uma âncora ao pé do perónio.
Ao chegarmos ao local combinado, Ricardo estava com uma rapariga...
– Ele já assentou de vez ou é mais uma curte de dois dias? – Perguntei, levando a minha mão ao queixo.
– Nem sei, conheci a Vera há dias, pareceu-me simpática e divertida – torceu o nariz.
Aproximamo-nos.
A tal Vera era morena, de estatura baixa, cabelo comprido, com um sinal na parte superior esquerdo do lábio e com uns olhos brilhantes.
– Ricardo, Ricardo… Sempre o mesmo, a enganar as pobres raparigas, nem sei como ainda não levas-te um excerto – atirei-lhe, enquanto a beijava nos lábios. – Pagava para ver, acredita.
Virou-se.
– Ahahahahahahaha… – Riu-se do meu comentário – Tens uma piada imensa – constatando um facto – Dá cá um abraço Miguel, há quanto tempo?
– Não quero interromper o vosso beijo, estejam à vontade – assobiei – é bom, não é, seu maroto?
Notei que a Vera estava mesmo embaraçada, coitada, às vezes sou mesmo mauzinho, mas o cabrão do Ricardo, enfim... Hoje curte com uma, amanhã com outra e depois com outra, passa a vida nisto.
– Meninos, parem com isso – interrompeu-nos uma voz doce, mas ao mesmo tempo assertiva – que ideia terá a Vera de vocês?
– Tens razão Alessandra. – Constatei.
– Desculpa Alessandra. – Constatou igualmente Ricardo ao cumprimentá-la. – Estás bonita – sorrindo para ela.
Alessandra cumprimentou Vera e eu dei um abraço a Ricardo.
– Vera, este é o Miguel, aquele amigo estúpido de que te falei.
– Que mau – fiz uma careta. – Imagino o que ele te disse sobre mim, mas é tudo verdade, garanto-te!
Vera fez um pequeno sorriso, no entanto aproximei-me dela e cumprimentei-a.
– Vamos divertirmo-nos? Perguntou Alessandra
Todos nós afirmamos que sim.


Bruno Miguel Inácio


 
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brunomi
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/03/2017 17:38  Atualizado: 20/03/2017 17:38
 Re: Manhã silenciosa 3 (Capítulo I)
Ate aqui, essa ja é a terceira parte da narrativa, o autor tem nos brindado com uma boa narrativa, rica em detalhes, uma descrição que nos permite visualizar os ambientes e as pessoas inseridas nele. Ate qui é digno de nota... aguardemos os próximos passos.


Enviado por Tópico
Jmattos
Publicado: 25/03/2017 11:18  Atualizado: 25/03/2017 11:18
Usuário desde: 03/09/2012
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 Re: Manhã silenciosa 3 (Capítulo I)
Bruno
Estou adorando! Continua!
Beijos!
Janna