O dia esconde-se a cada movimento do ponteiro dos segundos, faz-me sentir que deixei algo para fazer ou por dizer a alguém. Sempre fui assim, sempre vivi com saudades de voltar ao passado, de repetir os mesmos erros e acertos, mas desta vez com a pessoa certa, se houver alguma que então tenha existido.
Já não muito longe daqui, da noite, sinto o corpo a pedir descanso e a mente a fervilhar de ideias, de conspirações que fazem contra mim. Talvez este seja o princípio do fim, o derradeiro momento em que, perante tudo o que não fui ou que não fiz, me arrependo e peço perdão a mim próprio.
As letras saem-me das mãos sem soletrar uma única palavra, os olhos emudecem-se ao assistir a este vazio que desliza suave na linha de horizonte, que não muito longe se encerra na minha face. Morro a cada segundo. Escuto a pele a engelhar e a formar rugas que teimam em perpetuar-se no meu corpo. Agora sim, consigo saborear cada momento de vida sem que tal me traga remorso.
E tu, que um dia me deste tanta esperança, que me fizeste pensar que não chegaria aqui sozinho, que dizes? Amuas assim para que eu tenha dó do teu silêncio? Nunca o farei, irei obrigar-te a reflectir até que me digas o porquê de tudo isto. É a minha pequena vingança, a única forma que tenho para te mostrar os meus sentimentos por ti. Esses são tão reais quanto estas rugas, como o tempo que teima em não parar, não são coisas efémeras como o presente que insiste em não se mostrar. A vida é isto... feita de um longo passado e talvez algum futuro! Tragam o vinho que hoje é dia de comemoração... hoje? Hoje não, sempre!
A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma
Re: A Carta que Nunca te Escrevi ou a Simples Confissão d...
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