Poemas : 

A casa cheia de ti

 
A casa cheia de ti.

O quarto:
Simples, tão nu,
A cama, estreita e singela -
Corcel de amor tão imenso,
Portadas de borboleta,
Fresta de luz e ternura,
Cheiro ameno e carmesim,
O teu corpo generoso,
Sorriso aberto no tempo,
A tua pele - refúgio terno,
Dormir no teu abraço,
Entrega de firmamento,
Acordar no teu regaço,
Em desejo feito flor,
Amor de alegria mansa,
De coragem no encontro,
O meu corpo enternecido,
A minha pele que te anseia,
Dormitar no teu sussurro.
Ancorada no teu porto.
Acordar no teu sorriso.
Luz morna suave e breve,
Fragrância de mar aberto,
Plenitude no teu colo.


A cozinha:
Tão antiga e perfumada;
Dourada no seu fulgor,
Procura e chão no teu corpo,
Travo a mel na tua boca,
Doce enleio no teu peito -
Que espreito sem pudor,
E beijo com tão fervor,
Lambuzo-me na tua pele.
Abraço de todo o tempo -
Que me consola e me amansa,
Que me percorre e conhece,
Suco morno em pele macia,
Canção sonante no peito.
E encontro-me nos teus olhos -
Furtivos e tão presentes,
Enchem-me as horas de afago,
Ninho, chão, Terra e semente.

A sala:
simples e tão solene,
Alegria numa dança.
Sofá gasto – de prazeres inadiáveis -
que nos acolhe e convida,
Mergulho doce,
Melaço quente,
Porto aberto em mar presente,
Sopro quente em chão demente.

A varanda:
Audaz amante,
Confidente de ternuras,
Amiga de amor-coragem,
Acolhe-nos na viagem,
De devir suave e quente,
Na saudade de milénios,
No desejo de um só toque,
Em cada poro que respira -
Dou-me tua, em plenitude,
Na vertigem do momento
E um futuro tão presente.

E a casa cheia de ti.


Olívia Clara Pena

(Registo IGAC 2131)






























 
Autor
OlíviaClaraPena
 
Texto
Data
Leituras
707
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
5 pontos
1
2
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Margô_T
Publicado: 28/05/2020 09:26  Atualizado: 28/05/2020 09:26
Da casa!
Usuário desde: 27/06/2016
Localidade: Lisboa
Mensagens: 308
 Re: A casa cheia de ti
O quarto, a cozinha, a sala, a varanda… toda a casa tão cheia de lembranças.
Curiosa esta divisão do poema pelas divisões da casa – cada estrofe mapeando um lugar diferente.
Gosto deste encadear dos versos que vai englobando os diferentes sentidos: “Cheiro ameno e carmesim”, “A tua pele - refúgio terno”,” Luz morna suave e breve”, “Fragrância de mar aberto”, “Suco morno em pele macia”.
E, também, de alguns versos soltos onde o desejo e a saudade se revelam. Ora através da entrega e do desejo em desabrochar:
“Entrega de firmamento,”
“Em desejo feito flor”

Ora desenhando um desejo mais decisivo:
“Sofá gasto – de prazeres inadiáveis -
que nos acolhe e convida,”

Ora através do jogo de presença e fuga, onde todo o desejo se sustenta:
“E encontro-me nos teus olhos -
Furtivos e tão presentes”

Ora pelo significado que essa entrega e esse desejo podem trazer:
“Ninho, chão, Terra e semente.”
o lugar a que se volta (“Ninho”), o lugar que nos sustenta (“chão”), o lugar onde pertencemos (“Terra”), o lugar onde nos projectamos (“semente”).

Um poema-casa cheio de ti.