Contos : 

O Eu no outro lado do espelho

 
A identificação consigo mesmo trouxe duas consequências à humanidade. A possibilidade de diversificar as suas experiências, e a capacidade de resguardar a si mesmo.
Quando o homem sentiu a necessidade de se resguardar, ele criou de si mesmo o egoísmo, raiz básica de todas os reveses que atravessam. Esse fundamental arquétipo é representado de várias maneiras, sobretudo na figura mitológica de Narciso, que se apaixona por sua própria imagem refletida num lago. Eco simboliza a voz que o chama de dentro da caverna, procurando alertá-lo, mas o fim da história é conhecido por todos.
A humanidade sabia que havia um preço a se pagar ao sentir-se separado do todo, na busca de uma experiência mais ampla. A autoidentificação poderia distanciar os homens, e isso ocorreu, uma vez que era o esperado, e aquilo em que você acredita se reproduz em sua realidade. Arquétipos antigos na psique humana ilustram isso em toda a sua cultura, e vocês da civilização ocidental estão mais familiarizados com os símbolos e metáforas relacionados com Eva, que sai da costela de Adão. Ou o do paraíso (inocência) perdida. Ou pela busca do conhecimento, na figura da maçã na árvore da vida, ou mesmo Prometeus, que trouxera o fogo (conhecimento) aos homens.
Todas são fases necessárias, representam os picos e vales da onda que sempre apontamos aqui. Chegada a hora é a que os homens unirão-se outra vez. Não apenas um com os outros, mas unos com toda a natureza e criação. Somos parte desse processo, numa espécie de expansão de consciências. Isso não irá tirar a individualidade e a personalidade de ninguém, pois se assim fosse, toda a jornada seria em vão. A criação não é a destruidora da individualidade, mas a sua promotora. Você só entendeu errado essa individualidade.
O seu período de vida na Terra não pode defini-lo pela resto da eternidade. Se você viveu, uma, duas ou doze décadas, não importa, esse tempo não poderá dizer quem você é nas fibras da existência imortal. Você é muito mais do que apenas uma experiência de vida, e neste ponto que reside o seu equívoco.
O Eu verdadeiro não é a face que o espelho mostra. O espelho só mostra o você num momento congelado no tempo. Como um negativo. Olhe-se no espelho hoje... e volte no mesmo lugar, quinze anos depois, e veja, se encontrará lá a mesma pessoa. É possível que não, física, psíquica e intelectualmente, será outra pessoa... outro "eu".
Pois então, o que é o seu eu? Um negativo tirado no tempo, como uma foto inversa, da personalidade momentânea que você foi, ou era. Este "eu" momentâneo tem as suas preocupações, divagações e ocupações que por certo, dificilmente serão as mesmas do "eu" quinze anos adiante no tempo...
Cabe a você, então, decidir, se deixará essas preocupações regerem você em seu presente... sabendo que elas são tão fugazes.
Essas preocupações momentâneas em seu tempo linear você chama de Ego. É o que você pensa que é... mas, você não é a suas preocupações. A menos que queira ser...
Você não é nenhuma das imagens. Não está em nenhum dos lados do espelho. Esta mais para ser o espelho, que reflete todas as suas realidades, e tudo o que elas contém.
A chave deste problema está em se identificar mais com o espelho do que com a imagem. Como você faz isso? Ora, sabe aquela voz que fala com você todos os dias, lembrando você das suas preocupações, problemas e vaidades? Pois então, este é o seu ego... pare de ouvir as baboseiras que ele tem a dizer. Não se esqueça que ele é um retrato momentâneo e não quem você é de verdade.
Se parar de ouvi-lo, logo outra voz tomará o seu lugar. Ela lhe falará sobre união, liberdade e espontaneidade. Que toda censura é uma forma de violência originada no medo e na impotência. Talvez isso não lhe sirva muito bem como algo prático neste mundo de ilusões. Mas libertará a sua alma. Isso é algo a se considerar.
Há sim, sobre o você real. Você é tudo o que sobra, quando se tira o medo, a ignorância e a vaidade. Essa personalidade real, como está desvencilhada das coisas do mundo, está além dele, e logo, além do tempo e do espaço.


j

 
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London
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