Poemas : 

Um poema de um cérebro só

 
Tomo um clonazepam e fumo uma tronca.
Uma dose de vodca e tonto estou. É difícil me manter sentado.
O corpo pede: se deite!
Me derramo na cama.

Coloco uma boa música para tocar
e percebo o quanto estou tonto.
Apago. Acordo. Fumo outro e apago.
Por 4 dias o mesmo ciclo. Sem ver a rua
ou ninguém. Com saudades de alguém.

A folga tem fim. Hoje volta a rotina
de merda de um operário. Penso em demissão.
Mas preciso dos animais que veem nas notas.
Um aperto no peito. Uma angustia em estar
vivo. E dormir para sempre
é à vontade. Não sair do quarto.
Isso realmente me entristece...
Será se sou forte
o bastante?
Viver está se tornando um pesadelo.
Onde só sonho com a caneta em
Mãos.

Estou tentando vencer o que me atormenta.
Raízes recentes. Apanho e apanho.
Penso em desistir. Isso é o maior princípio
para a derrota.
Venho recebendo versos antes de adormecer
naqueles momentos de últimos segundos
de consciência.

Belos poemas poderiam surgir. Raramente
me lembro deles quando acordo.
Não sonho a um bom tempo
ou pelo menos não consigo lembrar.
Sempre escuro. Nada.
É como não existir.

Manu me traz a vida durante
a madrugada com uma lambida
áspera de gato. Bem na ponta
do meu nariz.

O sistema me obriga a voltar
a realidade durante a madrugada ainda.
É a busca por tesouros.
Sobrevivência do século XXI.
Somos uma geração egocêntrica
preguiçosos. Não quero trabalhar para outro
homem.
Não quero acordar cedo. Ou me preocupar
do quanto eles irão descontar
do meu salário.

Estou tentando encontrar um equilíbrio
e estou errando. Do de encontro com a parede
com meu punho por problemas
que não sei como resolver.

Dos velhos tempos só sinto falta
da infância
onde a inocência nos proporciona
a felicidade plena.

Agora tenho que me preocupar
em avisar: “é débito.” “débito?”
“Éé...” “Beleza.”
Tenho que me preocupar
Com goteiras quando chove.
Minha marmita?
Será que já a preparei?

Meu desodorante está acabando...
Que saco. O shampoo também!
Não quero sair da cama
e um foda-se doou a tudo. Praticamente.
Venha me visitar. Traga cerveja. Vodca não.
Cigarros ou apenas uma inteira
para a guimba que é melhor ainda.
Se quiser deixar uma ritalina de presente
quando for. Fique à vontade.
Clonazepam? Não precisa. Tenho muitos.
Já tomei tantos que durmo facilmente
no chão. Forrado apenas com jornal.

Por mais que eu tente
tudo que eu consigo
é me sentir morto.
Aproveito os dias de folga
me entupo de qualquer substância
que me deixe lombrado
ou alucinações. O mundo em si
é muito cinza. Cinza me sinto.
Não me peça para sorrir
caso queira tirar uma foto.

O descaso está em minhas bermudas
manchadas e furadas. Meteoros gigantes caíram.
Queimaduras no peito, barriga e dedos.
O descaso está nas suspensões no trabalho
e nas horas negativas. No descaso com a saúde.
Cigarros e bebidas. Ervas e comprimidos.
Sexo frio e solidão.

Dias sem colocar a cara nas ruas.
Internado em meu próprio quarto.
Planejando tudo. Antes de os gigantes chegarem.
E em outra realidade eu esteja vivendo
vivendo para mim.
Por enquanto observo Manu correndo
pelo quarto, agora que as goteiras passaram.

Ideias grandes demais para ficar
apenas nos papéis. A questão é:
como fazer com que a ação aconteça.

Mas estamos em uma geração
tecnológica. Quem se importa com livros?
Que os poetas morram de fome.
Dando a alma pelo o que nada pode se tornar.
Se entregar a um possível vazio eminente.
Editoras mercenárias
o mundo gira em torno do dinheiro
e não a nada que se possa fazer
se não, garantir o seu. Moldar seus sonhos.
Afoga-los e se manter estável.
Instável internamente. Inconformado.
Nunca me renderei.

Tentando me conformar
meu coração acelera quando a vejo na rua.
“Acelera essa merda.” É o que penso.
E a cada segundo que eu a via, meu peito apertava.
Sentia sua doce presença.

O que meus olhos viram. Ela. Apenas ela.
Meu coração sentiu. Não tinha como
eu ir pelo clássico caminho de fuga.
Eu já estava dopado o suficiente.
Tudo o que eu queria era um cigarro.
Fumei um de palha sozinho
em meu quarto. Sofri. Perdi o sono.
O recuperei. Evitei que eu me definhasse
em frustração.
Chamei os cachorros para a briga.
Puro eufemismo.
No fundo eu só queria estar
gritando do outro lado da janela:
EI! Sinto sua falta!
Pelo menos ela parecia estar feliz. Sorria.

Mantenho minha expressão
apática de uma profunda tristeza.
Não quero ser como Bukowski. Amargurado.
Mas vejo que já sou.

Solitude é diferente de solidão.
Porra! Tudo se resume em um pacote
chamado depressão.

Cinzas por toda a mesa
e as formigas simplesmente estão
em todos os lugares.
O quarto. Bombardeado o dia inteiro
pelo soberano sol. Tudo se transforma
em uma sauna.
Quando chove, há o risco de goteiras.

Um livro do Kafka em meio
a toda essa sujeira.
caixas de cedas vazias
e palitos de fósforos.
Espero pela morte e faço de tudo para me distrair.
Escrevo jogando palavras ao vento.
Enxugo o suor. Paro.
Observo Manu dormindo
com a mesma expressão boçal de sempre.
Pensando em que eu deveria limpar
o banheiro. Azulejos sujos.
Uma crosta de sujeira nos cantos.
Mas não. Por deus. Prefiro ficar deitado.

Penso em um pouco de álcool.
Penso em Brahma.
Um temporal se forma.
Busco 4 latões antes que a água caia.
E novamente. Outro dia ao qual
tenho que me preocupar com as goteiras.
Me entupo com alguns entorpecentes
para que meus olhos não gotejem.
São 4 paredes brancas. Nada para assistir.
Escuto a música vendo a terra girar
esperando pela noite na qual me perco
e apago.
Acordo o sol está no topo.
Ressaca e meu cérebro lento
e meus pulmões cansados.

Dormir não tem sido uma dificuldade
desde que o clonazepam
estejam ao meu lado.
Tentei expulsa-los.
De nada funcionou.
Não vão embora com facilidade.
Tenho que sustenta-los.
E aqui falamos sobre vícios e ate
onde eles podem ir.

Acordo pela manhã. 8 horas.
Abro a geladeira e tudo que vejo
é um único latão de Brahma que sobrou.
Peguei e abri. Dei bom dia ao meus estomago
com uma dose de cevada.
Earl Sweatshirt tocando no notebook.
Bolei um e porra que se foda
é domingo.
Manu miava inquieta querendo sair do quarto.
Arremessei algumas blusas para cessa-la.
Perguntei de todas as formas o que ela queria
e fechei a única janela que dava acesso
a área de fora da casa.
Ela me volta pro quarto
e continua a miar.
Estou com vontade de saciar sua curiosidade
E joga-la aos leões.
Quem sabe que com o aperto
Ela não aprenda que faço isso apenas
para protege-la.
Uma pena animais não falarem
seria tudo mais fácil.

Aos Leões de minha mente me lancei.
Coragem para aguentar por muito tempo.
Viver é um verbo. Um ato. E todo ato
se desgasta se feito regado a insatisfação.
Não é fácil simplesmente sair.
São muitas responsabilidades
o apoio sempre estará aos meus pés.
Mesmo sem chão acredito
ter onde pisar
e voltar atrás pode ser
seguir em frente. Desviando das baratas
que saem na escuridão.
Amassando cabeças de serpentes.
Nunca fui de dar um falso sorriso.

 
Autor
GabrielsChiarelli
 
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