NOME ARTÍSTICO

Li hoje que Augusto dos Anjos fizera dedicatórias de próprio punho nos exemplares da primeira edição de seu livro EU sem assinar, pois, aproveitava seu nome impresso no frontispício. Isso me fez pensar que eu fazia exactamente o contrário, sei lá porquê, com meus originais: Eu imprimia o poema -- ainda era em impressoras matriciais... -- e assinava à mão. Guardava meus originais assim, como se prova definitiva de autoria, sei lá...

Confesso que já fui muito encanado com esse lance de propriedade autoral; original do texto, cópia autorizada etc... Hoje sei que o mais importante é o texto. Afinal, a quem eu quero enganar? Eu sou muito mais interessante no que escrevo do no que vivo. Como diria Caetano, "sou um homem comum; qualquer um" .

O nome junto do poema é menos do que o poema. Se não for, teremos mais uma vez um poeta mais citado do que lido. E não há nada mais triste do que um poeta mais citado do que lido, não é mesmo?

É isso.

Abraços, grande Trabis de Menta!

RicardoC.

O termo sujeito poético vem-me logo à ideia.
Sujeito poético e autor pouco têm a ver. A não ser claro, numa auto-biografia.
É muito provável que essa dissociação seja mais notória em prosa por existirem centenas de personagens num romance e termos a perfeita noção de que o autor não é nenhuma delas. Ou talvez esteja um micronésimo dele nelas.
Mas quando um poeta escreve "sinto" ou "sou" pode haver a tentação de se pensar que o autor está a falar de si mesmo.
Quando no fundo ele veste uma ideia, um preconceito, um aforismo, uma palavra, e define-a, limita-a ou tira-lhe o limite, por exemplo.
Em muitos casos os autores podem dizer que a sua escrita é apenas sobre o que pensam ou sentem.
Contudo, partir desse pressuposto, pode ser um erro.

Sobre a importância dos direitos de autor.
Tem a ver com dinheiro, ou com o direito a reclamar originalidade.
Dinheiro porque os livros em papel eram vendidos e os autores procurados nas livrarias e tinha-se de saber se esse dinheiro ia para autor A ou B.
Originalidade, porque não me parece justo que outrém possa dizer que criou algo que não fez.

No fundo, o importante é que os fonemas surjam e estejam disponíveis para consumo.

Num sistema perfeito não era necessário dinheiro e o conhecimento rolava sem nome.

Abraço Ricardo

Com efeito, caro Rogério Beça, há-de chegar o dia em que o conhecimento poético se expanda a despeito de licenças ou custos.

Penso que os poetas mortos, cuja obra já se encontra em Domínio Público, têm essa vantagem de poderem ser lidos em paz. Os vivos, ao contrário, estão sempre pressionados a serem melhores do que são para venderem seus livros. Personagens de si mesmos, têm de se destacar como artistas e intelectuais em meio ao consumo frenético da massa. Pobres poetas vivos!

Por isso ambiciono uma descrição absoluta: para que as bobagens que faço na vida não influenciem o modo como sou lido!

É isso.

Abraços, RicardoC.