Partiste para longe, numa cidade tão longe
Cidade de angustia surda ao final dos dias
Nas frias mãos do silêncio a calar as almas
Onde não há horizontes e pássaros a voar
O vento vem da hélice enlouquecida a girar
Vou dizer enfim o que houve na minha vida
No dia que te esperei, mas nunca voltastes
Qual a brisa que soprava ligeira nos campos
Voltei meus olhos ao mundo, assim renasci
E fiz das palavras poemas quando te fostes
Então no campo continua sem fim de trigais
O perfume desmedido de lavandas ao vento
Livre como o imenso espírito da ave rebelde
Onde as mansas lagoas, são espelho do céu
E o coração pulsa da alvorada ao entardecer
Vim dizer-te nenhum segredo, tudo já sabes
Que o verão, de novo, já sucede a primavera
Iluminando em cores as flores por ela abridas
Neste peito mais que partir, tua saga morreu
Nem está na memória dessas tardes infinitas
Absurda, a roda continua a girar sem sentido
(abridas = com licença: abertas)