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E lá fomos todos à festa

 
Dava-se o caso de, naquele ano a minha amiga e colega de escola me ter convidado para ir à festa da terra dela, que seria por ali, algures pelo mês de Agosto, como o são quase todas as festas das aldeias das redondezas, da nossa bela Serra do Açôr.
Ora, dava-se o caso de não poder ir sozinha, visto que nem camioneta da carreira, nem boleia nenhuma a partir da minha terra e para aquelas bandas. De modo que, o convite foi mesmo para todos. Ou seja, eu mais a minha irmã encostadas a um dos lados da carroçaria e a minha mãe ao outro para contrabalançar, não fosse o desgraçado guinar para um dos lados e espetar-se contra a valeta. Ou ainda, pior do que isso, entornar-se por ali abaixo do lado das barreiras!
De maneira que, o meu pai firme e hirto, agarrado ao guiador do triciclo, qual cavaleiro convicto à sela do animal.
Nas ladeiras, o bicho queixava-se tanto que ele resolveu levar-nos à formiga... ora eu e a minha irmã, ora a minha mãe sozinha.
Chegados lá, seriam umas dez da manhã e a missa ainda por começar. Havia ainda a procissão pelas ruas intermináveis, com a banda da Aldeia das Dez a marcar o compasso e, só após a missa acabar, a venda das ofertas que nesse ano seriam mais de meia dúzia. Tudo isso ali no meio do largo junto a um chafariz, leiloando e oferecendo de novo para voltar ao leilão, várias vezes, fazendo render o artigo até mais não. Meio dia e o leilão ao rubro ainda... A minha irmã, criança ainda, a queixar-se de um rato no estomago e o meu pai, sem ter levado bolacha nenhuma na algibeira, a ter de lhe ir comprar um pacote de batatas fritas à taberna que por lá estava aberta naquele dia de festa...
Chegada, finalmente, a hora do almoço, seriam para aí umas boas três horas da tarde e a primeira coisa a chegar à mesa para acalmar a galga, foi uma travessa de feijão encarnado com toucinho cozido pois então, querem lá coisa melhor para matar a fome?! Pois bem, o mestre da música não se armou em esquisito e era vê-lo a comer com satisfação o petisco que ali tinha á mão. Seguiu-se o cozido como deve ser, com tudo a que se tem direito, até chouriça de tripa cagueira e morcela de arroz. E só depois disso tudo é que apareceu a chanfana! Mas essa, a sobrar quase toda...
Vieram ainda travessas de arroz doce e tachos de tigelada, como em qualquer mesa que se preze em dia de festa, de uma casa nas aldeias da Serra do Açôr.

Cleo


*... vivo na renovação dos sentidos, junto da antiguidade das lembranças, em frente das emoções...»

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cleo
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