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Femina ou A dura tarefa de ser mulher no mundo rude de 2023

 
Uma amiga morreu no lar onde devia ser seu refúgio seguro
Sua lembrança me devolve às ruas da infância, pipas e piões
Lembro-me da sua boca pequena confiada a tantos sorrisos
Tempos que não haviam balas perdidas ou punhais erguidos
Como se pudesse tomar distância dos ardis da modernidade
Pela janela do trem, vejo a sombra a contornar a paisagem
Rodas e trilhos são qual um tambor desafinado no caminho
Conspiram cinzas ao passarem as últimas praças com flores
São qual ecos do entardecer que se embriagam pela cidade
A assustar cães vadios que comem restos na beira do trilho
Onde também dormem os viciados condenados ao fracasso
Essa paz ilusória oferece seu engano a todos os impostores
Se o tempo não volta, a mão assassina vem em duas rodas
A própria carnalidade se faz ameaçada a cada desatenção
Políticos ou togados não! Sobrevoam o mundo sem tocá-lo
É tão difícil quão não é prudente, levar luz delatora a eles
Não são vícios na paisagem que lastimo, sim o despropósito
O aço cravado nas costas da mãe mulher, pela impunidade
Desculpas não logram enganar-me, porque é hora de reagir
Não como lamento que chega extemporâneo, sim aqui e já
Mostrar-lhes o ruído de nossas armas, da caneta e o papel
São seis da tarde, o retorno da cidade chega a seu clímax
Em um sinal oculto ou uma língua que fale o idioma da luz
As noites vão e vêm e pessoas mendigam um naco de Deus
E o respeito pela vida segue abandonado, nu de intenções
A marca do corte, a ferida esquecida, o gole frio do café
Cascalhos urbanos, o rosto da cidade sobre a mesa do bar


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
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Enviado por Tópico
Alpha
Publicado: 06/06/2023 17:06  Atualizado: 06/06/2023 17:06
Membro de honra
Usuário desde: 14/04/2015
Localidade:
Mensagens: 1888
 Re: Femina ou A dura tarefa de ser mulher no mundo rude d...
As moléstias que a mulher carrega
Poucos param para olhar e pensar
Há os que na rua fazem a guerra
De qualquer lado atiram a matar!

O mundo, os tempos, sempre foram rudes para com as mulheres. As impunidades continuam a ser praticadas a céu aberto. Precisam que as deixem voar em liberdade tal como os pássaros! A caneta e o papel tem dado grande impulso para este desiderato.


Enviado por Tópico
Gyl
Publicado: 06/06/2023 19:23  Atualizado: 06/06/2023 19:25
Usuário desde: 07/08/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 16070
 Re: Femina ou A dura tarefa de ser mulher no mundo rude d...
Prosa poética dotada de reminiscências de antanho e cheia de uma ternura triste com a singularidade majestosa do poeta amigo. Destaco:

"São qual ecos do entardecer que se embriagam pela cidade
A assustar cães vadios que comem restos na beira do trilho
Onde também dormem os viciados condenados ao fracasso"

Forte e poético. Bravo!