Os meninos que vendem frutas,
Às margens da rodovia,
Não podem ir à escola,
Porque têm que ajudar os pais
A pagar os juros do cartão.
Os meninos acordam antes de o sol sair.
Às vezes ainda são iluminados pelo brilho da lua.
Quase sempre são banhados pelo sereno matinal.
O orvalho nos capins não enche os olhos,
Encharca os pés.
O show dos pássaros passa despercebido,
Não é música para aqueles ouvidos.
As árvores bailando com o sopro do vento,
A aurora matinal e toda a festa
Não fascina aquelas almas.
Quem sente dor, não se derrete com uma flor.
A falta de botas e casacos afeta os sentidos.
No sentido do sítio, vão eles
Levados pelos juros do cartão,
Pelas mãos de santo Onofre
E pelas vidas trancafiadas em um cofre.
Nesse quadro mal desenhado,
Os meninos que oferecem frutas doces
Amargam um presente
Que sinaliza um futuro pesado
Nas balanças dos que recebem os juros dos cartões.