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Quem vai de graça?

 
O direito de brigar por respeito
Não é gentileza,
É herança de quem sobreviveu
Com o pescoço na mira
E o nome na ficha.

Justiça não chega de mãos dadas,
Ela vem sangrando,
Gritando em portarias que não se abrem,
Com um filho no colo
E o outro no chão.

Negros não pedem demais,
Pedem o que foi negado
Antes mesmo de nascerem:
Respeito sem condicionais,
Vida sem estatística,
Futuro que não come pela beirada.

Enquanto isso,
O revólver engatilhado treme
Na mão do Estado,
Mas nunca erra o alvo certo:
A pele escura,
O boné torto,
O passo acelerado no beco errado.

Quem vai de graça?
Quem entra algemado e sai plastificado,
Sem direito a defesa,
Sem ver o nome no jornal,
Apenas nas planilhas da tragédia?

Brigar é verbo de sobrevivente.
É a última dignidade
Antes do silêncio imposto.

E ainda assim,
Nos olham como se fosse demais
Pedir o mínimo.

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

www.odairpoetacacerense.blogspot.com

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@poetacacerense
 
Autor
Odairjsilva
 
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