Costumava acreditar
que as pessoas só passam uma vez na vida.
Como se tivéssemos
uma única oportunidade
de as amarrar,
absorver tudo,
e já está:
simples,
fácil,
sem confusões.
Quem nos fez acreditar
que a vida era fácil?
Que o primeiro namorado,
o primeiro desgosto,
aquele professor cruel,
a primeira melhor amiga,
as confusões…
seriam fáceis?
Tudo porque, diziam,
as pessoas só passam uma vez.
Mas às vezes,
— bem baixinho —
eu desejo que seja assim mesmo:
que passem só uma vez.
Que parem por um instante,
que sejam,
fortalecidas,
transformadas,
mas que sigam.
Sem ficar.
Só que…
existem os teimosos.
Aqueles que voltam.
Uma, duas, três vezes.
Mesmo quando já não há nada a dizer,
mesmo depois da mágoa.
Ficam.
Mais perto.
Demais.
Tão longe que achamos
que escaparam.
Mas não escapam.
Há um fio invisível.
Um fio que prende.
Que chama.
Que nunca rompe.
E essas
são as pessoas raras,
as que não passam só uma vez
na nossa vida.
Escolhemos nós
a quem ficamos presos?
Ou é o acaso que decide?
O destino?
A sorte?
Parece-me uma escolha grande demais
para caber num instante.
Como posso escolher alguém que me magoou?
Quererá essa pessoa ficar ligada a mim?
Como aceitar perder alguém
que eu queria para sempre?
Será só sorte?
Será só destino?
Não me parece.
Não me conformo.
Dizer que foi o destino
é a resposta mais fácil.
Mas fácil não é o mesmo que verdade.
A vida é curta,
mas é minha.
Quero escolher quem fica,
quem vai.
Lá no fundo,
acredito:
não é destino,
não é sorte.
Sou eu.
Eu,
que mesmo com a tesoura na mão,
não consigo cortar.
Mas…
cortamos fios todos os dias
sem perceber.
Por que uns não se rompem,
mesmo quando queremos?
Porque o fio também se tece
de saudade,
mágoa,
rancor.
Não só de amor.
E às vezes,
ficamos ligados
não porque amamos,
mas porque deixámos
uma parte de nós no outro.
E recusamo-nos a largar.
O fio,
nem sempre leva ao toque.
Mas nunca,
nunca se desfaz.