Só os mortos viram o fim da guerra...
A guerra não cessa no silêncio dos tiros,
Ela se transfere para dentro da carne dos vivos,
Fazendo do coração trincheira,
Da memória campo minado.
Só os mortos conhecem a trégua absoluta,
O descanso sem marchas,
Sem bandeiras hasteadas sobre ruínas.
Eles repousam onde não há mais ordens,
Nem hinos,
Nem o peso da espera.
Os vivos, mesmo após o último disparo,
Ainda caminham entre fantasmas,
Ouvem gritos em meio à madrugada,
Carregam na pele a poeira de cidades queimadas.
A guerra termina
Apenas na terra que cobre os ossos,
Na eternidade sem retorno.
E é cruel saber que a paz, para nós,
É sempre uma promessa adiada,
Um eco distante
Que só os mortos conseguem tocar.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense