Poemas : 

Vulva Sagrada

 

Há dias que eu só ancorar e descansar em alguém.
Em quem?

Há quem queira apenas carne, sexo, uma vulva molhada de desejo.
Mas a minha é preguiçosa.
E os meus desejos são, na verdade, de afagos, verdades, lágrimas sinceras, corpos sem armadura... almas?!

Estou tão cansada que esse cansaço não cabe em mim.
Sinto falta do que não existe.
Crio personagens — Dom Quixotes, Templários, anjos rebeldes — qualquer um que se revolte contra o absurdo da existência.
Qualquer um que veja além.
Qualquer um que sinta.
Que tenha, como eu, o sagrado no sangue.

Mas qualquer um, não.
Não quero.

Portanto,
tenho os olhos molhados e a vulva seca.

Ó, Deus!

Não há quem suporte isso.
Sou um problema.
Deveria ser uma boneca, mas tenho vida própria — vontades, sonhos.
Meus desejos vão além da matéria.

Simbiose espiritual?
Talvez.

Mas ninguém quer conexão.
Ninguém quer ancorar no caos do outro.
Ninguém quer dias nublados ou acordes de Paganini.
Todos querem funk, prostitutas felizes e só.

Talvez, se eu me vender — sendo vendida —, me torne mais amada, mais amável, mais aceitável.
Uma puta com dinheiro e feliz é melhor que uma cabra revoltada, problemática, com excesso de verdade na língua.

Deus me perdoe: não nasci santa.
Nasci bruxa e trago entre as pernas o caos das mulheres que sentem com a alma, com o espírito, com a verdade.

Há dias em que eu queria sentir apenas com o corpo.
Mas não adianta.

Mentiras me deixam seca.
Que seja.
Amém.



 
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rebecarocha
 
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