Será que no fim
Todos nós nos tornaremos histórias?
Talvez seja esse o destino mais humano:
Dissolver-se no tempo,
Não como corpo, mas como lembrança.
Somos capítulos que o vento folheia,
Vozes que alguém repete
Para não deixar morrer o que fomos.
O corpo se apaga,
Mas a memória insiste em permanecer,
Respira em outras bocas, se abriga em outros olhos.
Cada gesto, cada palavra dita com ternura ou fúria,
Vira fragmento de um enredo
Que o mundo continua escrevendo.
Ser história é permanecer em outra forma,
É existir sem presença, mas com sentido.
Os rostos se apagam,
Mas a emoção que deixamos nos outros não desaparece.
Ela se torna um eco, um rumor distante,
Uma página marcada no livro da vida.
Talvez viver
Seja apenas preparar-se para esse instante:
Quando deixaremos de ser carne
E passaremos a ser voz,
Quando o tempo nos tomará nas mãos
E nos guardará entre as páginas de alguém.
E assim seguiremos,
Como narrativas inacabadas,
Livros que o universo relê em silêncio,
Enquanto as nossas histórias,
Descalças e serenas,
Continuam caminhando pela memória dos que ficaram.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense