Minha terra tem mangueiras
donde canta o bem-te-vi.
O pardal que aqui gorjeia
veio de longe daqui.
Minha terra brasileira
tem romãs, maçãs, caquis;
mas até a laranjeira
veio de longe daqui.
Quem carrega tanta mágoa?
É nativo ou do porvir,
vindo lá daquelas águas?
Creio que não são daqui.
O que trazem em suas malas?
São retintos o seu luzir.
Serão deuses noutras casas,
naves que surgem dali?
Eu me assombro até os cabelos,
se arrepia tudo em mim;
e o meu corpo – tão vermelho! –
já aguarda o nosso fim.
O que trazem? Deuses negros
ou diabos que não vi?
Serão sonhos, pesadelos
estes seres vindo ali?
Então vejo homens claros,
vestes longas, coloridas,
dando foices e machados
pelas árvores de tinta.
E a terra, muda, assiste
Certo nome que lhes dão;
Uma cruz com um homem triste
Morto em crucificação.
Não queremos mais espelhos!
Não queremos rum nem gim!
Nós sentimos tantos medos!
Pressentimos nosso... Fim!
Gyl Ferrys
Título de um livro de Almeida Garret.