Às vezes acho que estou preso
Dentro de um espelho rachado.
Cada pedaço tenta refletir um pedaço de mim,
Mas nenhum diz a verdade inteira.
Há dias em que sinto
Que um nome quase nasce na minha garganta,
Um nome para essa inquietação que me cerca,
Mas ele morre antes do som.
É como viver dentro de uma sala sem portas,
Onde o ar não sufoca, mas também não liberta.
Onde cada sensação é um fio solto,
E quando tento pegar,
Ele escapa entre os dedos.
Eu me movo, mas não avanço.
Eu penso, mas não defino.
Eu sinto, mas não sei dizer o quê.
Talvez eu seja uma frase que ainda não sabe
Qual verbo pertence a ela.
Ou talvez eu seja apenas o silêncio
Entre duas palavras
Importantes demais para serem ditas.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense