DE SILÊNCIO EM SILÊNCIO...

Como você está reflexiva hoje, amiga Núria! Desbocado como sou, fico até constrangido diante deste seu comentário. Núria, agora falando sério: obrigado pelo carinho das suas palavras. E parabéns pelo soneto Ilha de Lesbos. Nunca mais apague um poema seu por conta de um comentário idiota. Seja sempre a mulher forte e corajosa que você é. É bom a gente incomodar, sabia?

Beijo para você, Arão e as crianças.

Afeto e admiração,

júlio s.

Eu estou uma manteiga derretida hoje. Sei lá, essas mutações de estado de espírito sempre me rondaram. Acho que é por esse motivo que virei poeta. Teu poema serviu como uma luva pra mim, que hoje to chorona mesmo. É que minha filha foi morar em outra cidade pra estudar, e isso machuca o coração da gente. Desculpa por eu estar falando isso, não tem nada a ver com teu poema, mas pelo menos aqui deixei o silêncio de lado. Fica bem, amigo. Um beijo, Núria.

flavio, meu irmão:

aqui no brasil é foda. poesia é vista como coisa satânica. mesmo poetas consagrados pastam para publicar. e, como eu lhe disse, só são valorizados depois de mortos. autores premiados acabam publicando seus livros independentes. não encontram boa vontade nas livrarias para pô-los à venda. infelizmente, meu país que tem tantos bons escritores e poetas, apresenta para o mundo o lixo do paulo coelho. isto sem falar que qualquer letristazinho de música no brasil é chamado de poeta. poesia séria aqui é coisa para uma minoria. e olhe que há poetas excelentes. alguns são descobertos quando já passaram dos setenta anos, caso de manoel de barros, por exemplo. mas este, apesar de excelente poeta, sempre foi rico. tem fazendas no pantanal. portugal já o publicou. eu tenho dois livros prontos. e vou lhe dizer: acho mais fácil publicar um deles aí do que aqui. ser mais reconhecido e respeitado aí do que aqui. é aquela coisa meio bíblica: nenhum profeta é reconhecido na sua terra.vinícius de moraes mesmo tornou-se mundialmente conhecimento porque fazia letras de música, shows pelo mundo inteiro. drummond, nosso poeta maior, vivia do jornalismo e da aposentadoria como servidor público. idem, manuel bandeira e outros. depois de mortos, aí não: aí a coisa vira uma festa - saem reedições uma após outra. a cultura brasileira é riquíssima, em todos os sentidos. mas os donos do poder estão cagando pra isso. não existe música no mundo melhor do que a nossa. no entanto, exporta as sangalos da vida. e não faltam cantoras de talento. o brasil não merece o brasil.

abraços,

júlio


ps: procure ver no google os poemas do meu amigo álvaro alves de faria. ele vem publicando muita coisa aí em portugal. aqui ele não tem muito espaço. e olhe que tem mais anos de janela do que eu. foi´premiado inclusive na universidade de salamanca. e trabalha numa rádio de prestígio aqui.

meu caro poeta,

bem-vindo o seu comentário. infelizmente, o que procurei traduzir nestes versos nada mais é do que a realidade cruel do meu país, tão rico e tão desigual. belo de um lado e podre de outro. eu lamento que o brasileiro seja um povo conformado, a se contentar sempre com as migalhas e a esquecer tudo numa roda de samba ou num campo de futebol. por duas vezes, elegemos o mesmo presidente: um operário, achando que os rumos fossem mudar. mentira: o presidente do meu país traiu a si próprio. continuamos a viver sob o manto da mentira, vendendo para fora uma imagem que não condiz com a nossa realidade. cresce o número de crianças abandonadas e assassinadas por uma polícia que primeiro atira a esmo para depois perguntar quem é. cresce o número de desempregados. a ignorância grassa. e nós continuamos calados, sem fazer barulho. somos eternos condenados e carregamos o estigma de país do futebol (acho que hoje nem isto) e do carnaval. aliás, carnaval aqui é o ano inteiro, em todos os sentidos. grato pelas suas palavras. e aceite o meu braço afetuoso,

júlio s.

Que bom vê-lo por aqui, meu caro Silveira, que bom. E é bem verdade o que você diz: os sapos engolidos são vomitados. Mas o pior é que acabamos sufocados com o nosso próprio vômito. E a vida continua. O país prossegue na mesma marcha de sempre. Até quando? Sem qualquer esperança, eu digo - até sempre.

beijos, meu irmão.

júlio

meu amigo tony,

bom receber suas palavras, sempre bom. eu tento trazer a realidade à realidade. nem sempre acerto, mas tento.

abraço,

júlio

Meu amigo Godi,

Concordo plenamente com você. Não creio muito em inspiração. Muita coisa que aqui publico, já saiu em meus livros ou estava adormecida na gaveta. Poesia requer sacrifício. Não é passe de mágico. Tenho reservas com poetas muito inspirados.

Axé, meu irmão!
E obrigado pelas suas palavras.

júlio

Salve, salve, Conceição!

É isto mesmo: boca serve para falar. E falar é muito bom. Abaixo a mordaça que nos sufoca. Mas se ela houver, bater o pé no chão também faz barulho, também incomoda.

afeto, minha amiga.

júlio