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capaz de ruir à mais leve e suave brisa… 
ou até mesmo sem causa aparente… 
Não temas pois 
se, de súbito, uma lágrima despontar do meu olhar 
ou um suspiro me arrancar o ar do peito 
a ponto de desfalecer… 
e não creias que é por ti ou por mim 
ou por qualquer outra razão, 
porque pode ser por tudo e pode ser por nada, 
pode simplesmente ser que aquela lágrima sentisse ímpetos de respirar 
ou o suspiro soltasse uma amarra da alma 
e deslizasse, veloz, peito afora, desfazendo nós pelo caminho, 
libertando um pensamento aprisionado em cadeias de solidão… 
Há pensamentos assim, presos, condicionados 
que não sabem encontrar voz que os acompanhe 
e lhes torne leve o peso que em si contêm… 
há pensamentos que sofrem 
e invadem de angústia os recantos de temor 
que o sonho se esquece de preencher… 
e há pensamentos que, tímidos, 
se encolhem no seu canto com receio de se perder, 
de se dar a entender, 
porque nem sempre a voz os guia 
na certeira direcção da sua inteira compreensão… 
E há lágrimas que gritam, mudas, 
toda a dor de um pensamento assim agrilhoado 
e tentam aliviar-lhe a dor sem compreender o seu tormento 
porque as lágrimas não sofrem, 
encontram sempre o caminho da sua própria libertação, 
sem receios nem temores 
e deslizam serenidade no rosto em que se passeiam… 
há lágrimas que iluminam força na alma 
em pequenas gotas de limpidez … 
Não receies, então, a lágrima que em meu olhar apercebas 
pois talvez aquela pequenina gota seja a nascente 
que renova o rio da minha força por instantes enfraquecida… 
~*~
 
                
        
                (Imagem de autor desconhecido com efeitos de editor  by Zita...)