CANÇÃO DO POEMA INÚTIL

Meu caro poeta-irmão,

Já fui mais vanguardista. Quando jovem e brigava muito pensando que fosse conseguir mudar o mundo. Hoje, nem tanto. Às vezes, apanho e me calo. Faço os versos livres quando o poema assim me exige. Mas não desprezo, como dizem, as formas clássicas, inclusive valho-me delas. Mas procuro obedecê-las - você sabe. E não soltá-las assim de qualquer jeito, só lhes dando o rótulo.

Abração, amigo - e obrigado pelas palavras

É a utilidade inútil, Edílson. Mesmo sabendo disso, ainda insisto em dar murros em ponta de faca. Como dizia Vinícius, a dor dói, mas passa.

abração,

júlio

não entendo, Domingos, este poema como vanguarda. Tanto que foi inspirado num poema do Seféris, escrito faz tanto tempo. É, sim, como você bem diz uma elegia. Um poema quase de desespero. De desencanto, talvez. Sabe, a palavra vanguarda me assusta. Na verdade, nem eu sei o que é vanguarda. Aqui no Brasil, na década de 1950, os concretistas, liderados pelos irmãos Haroldo e Augusto de Campos e mais Décio Pignatari, disseram que eram vanguarda. Até hoje insistem nisto, o Haroldo já morreu. Mas faz cinquenta anos isso. Eu tenho medo. Tenho medo até de pensar muito por aqui. Na verdade, eu só achei as imagens bonitas. Há muito tinha esses versos de Seféris na cabeça. O José Paulo Paes, que dizia não conhecer grego, fez uma tradução primorosa, desde os mais antigos até os modernos - ou vanguarda. O russo Maiakóvski era vanguarda. E acho que não deu certo. Falava que era melhor morrer de vodca que de tédio, mas meteu uma bala na cabeça, depois da revolução. Este poema, na verdade, foi só uma elegia. Acho que a mim mesmo.

abração meu irmão-poeta,

júlio

Veja, Vóny,

Este poema, esta elegia, por exemplo, dedicada a Domingos da Mota (fogomaduro) é apenas um poema. Não tem endereço a ninguém, senão o afeto a um amigo, que me tem sido de extrema lealdade. Escrevi este poema, ne verdade, baseado nos dois versos de Seféris, citados em epígrafe. Nada mais do que isto. Um poema de perda. De dor. Um poema feito com palavras enlutadas. E eu só tenho a agradecer pelo seu comentário.

Afeto,

Júlio