Textos : 

O gajo que regressou à Praia do Cão Perdido

 
É verdade, hoje voltei à Praia do Cão Perdido, se bem se lembram, fui eu quem lhe deu este mesmo nome, devido a ter perdido por lá um cão que não tinha, pois bem, hoje resolvi voltar aquele imenso areal, não porque me tenham mandado dar banho ao cão novamente, até porque seria uma tarefa infrutífera, pois o cão, que eu não tinha, perdeu-se na primeira vez que lá foi, decidi ir ali, movido pela tristeza, (bolas!! Isto é coragem assumida!!), fui de bicicleta, movida a perna bem torneada e semi-musculada, (que foi?! um pouco de publicidade não é pecado!!), num punho do guiador da pasteleira, levava um balde e no outro punho, a trela que não existe, na infíma esperança que não perco, de quiça, encontrar o canito perdido. Cheguei um pouco fatigado, pois os anos não perdoam, apesar desta carinha de puto de quarenta anos, já cá moram quarenta e um! ...Já é noite, não avisto um único veraneante, se bem que se avistasse alguém só se fosse um inverneante, pois com este frio gélido, que vem deste mar imenso à minha frente, tudo se sintoniza com Inverno profundo; saí da pasteleira, atei-a a um sinal de "proíbido cães na praia entre às 10 e as 20h", com a trela que não existe e desci até à areia, as mágoas desceram comigo, passo a passo as minhas pegadas são gaivotas e assim cheguei à beira-mar; estou frio, mais frio que o ar que me rodeia, estou junto a este mar tão imensamente sublime e poderoso, mas que está ali, prostrado aos meus pés! Senti-me Senhor de nada e Amo de coisa alguma, pois a única coisa que tenho como minha é esta tristeza e esta malfadada gripe que não me larga!
O vento sopra, ergo a cabeça e aproveito para lançar o caraterístico assobio que fazia correr o cão que nunca tive, era vê-lo em grande correria, vir direito a mim repleto de alegria e lamber-me todo, sem nunca me tocar com aquela língua engraçada que tinha, mas desta vez nada disso sucedeu, o assobio perdeu-se na noite, nesta noite de céu estrelado, noite onde eu quase me perco também... fui caminhando à beira mar e perdi o tino à bicicleta, é que a escuridão é luz reinante por aqui; mas vou apenas voltar para trás e seguir os meus próprios passos, vocês não viram, mas enquanto caminhei entreguei ao mar as mágoas, ele em troca, deu-me lágrimas salgadas, como se fora, águas de Amor, enchi o balde que trouxe comigo, até metade; já cheguei até junto da minha pasteleira, estranhamente, a trela não está cá e tenho uma mijadela de cão numa das rodas! ...Coincidência ou talvez não?! ...Seja como for está na hora do regresso, vou fazer aerossóis com esta água, porque me foi recomendado e assim talvez atenue este mau estar gripal que me condiciona a própria razão! ...O Amor, contudo, esse, é incondicional e incondicionado! ...Fiquem bem é tenham uma boa noite; quanto à Praia do Cão Perdido, talvez um dia eu regresse em busca do meu canito.


Andy

 
Autor
Andy
Autor
 
Texto
Data
Leituras
813
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.