Textos : 

Excertos de um diário

 
10 de Setembro de 1986

Mãe: um pouco mais de Sol e é como se sorrisses por entre a tempestade. Quando partiste levaste todas as flores. Eu fiquei com a música e uma saudade enorme a crescer para fora do peito, de tão grande. Um beijo sempre. (Que solidão, Meu Deus!)

22 de Setembro de 1986

A saudade é uma dor física que não sei onde começa mas sei que não acaba...
O que eu não dava para te ter aqui comigo, agora a dares-me carinho...preciso tanto da tua ternura...Um beijo. Se eu pudesse ir até aí...

7 de Outubro de 1986

Minha mãe sinto que me proteges e encorajas como eu desejava que fosse físico esse teu gesto de amor...Por vezes apetece-me ir ter contigo, mas não sei se te encontraria...é que estás tão dentro de mim...Minha mãe muito querida.

20 de Outubro de 1986

Minha querida mãe: a manhã está luminosa e fria e que saudades que eu tenho das manhãs iguais em que me aquecias com o teu sorriso. Vagueio pela casa vazia, tão vazia numa solidão estrangulante de lágrimas e dor. Por vezes sento-me aqui, neste nosso recanto e fico a olhar para a porta numa espera desespero. as lágrimas recusam-se a brilhar ao Sol, preferem encher-me o peito de sal...Outras vezes (sempre) sinto-te tão perto que a minha única raiva é não poder tocar-te, ouvir-te...
O tempo vai decorrendo, mas as coisas não têm sentido, nem direcção, não têm razão de ser movimento-me apenas porque tenho que o fazer numa tentativa de libertação este tentar não pensar/lembrar/chorar-te.

Olha estou com medo do Natal. Não devias ter partido tão cedo.
Sabes, és a única pessoa que eu amo de verdade, é impossível gostar assim de mais alguém, sem reservas.

Do fundo de mim, algumas lágrimas, todas as flores do mundo e tudo de mim. Sempre.
Um beijo.


2 de Dezembro de 1986

É incrível como de repente o céu se abate sobre nós e chovem lágrimas de verdade neste tentar não lembrar que saudade Meu Deus Mãezinha sou uma menina pequena com medo do escuro e com esta dolorosa certeza que não voltas mais. É noite e o que me dói mais é essa impossibilidade de regresso este fim precoce esta mudança de mim em alguém que desconheço e lamento.
Mãezinha não sei se não te reconheço por causa das lágrimas se é por te tentar esquecer neste dia a dia sem futuro nesta dor salgada nesta fuga sem destino...


AnaMar

 
Autor
Nini
Autor
 
Texto
Data
Leituras
2494
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
3 pontos
3
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Fhatima
Publicado: 10/03/2009 22:31  Atualizado: 10/03/2009 22:44
Membro de honra
Usuário desde: 12/02/2008
Localidade: Joinville - SC
Mensagens: 3336
 Re: Excertos de um diário
Nini querida,

Fiquei emocionada com o teus textos referentes a tua imensa saudade que sentes da sua mãezinha, cheguei as lágrimas, te entendo e muito, sei da dor de perder um ente querido, dói e muito. Tens uma alma que chora, e demonstra a grandeza de teu espírito, és sensível e amigo, és um ser
singelo,e merece toda a minha admiração
por ser uma filha que valoriza a sua mãe.
Tens em minha pessoa uma admiradora e amiga.
Fica com Deus!

FhatimaOpen in new window

Enviado por Tópico
AnaCoelho
Publicado: 11/03/2009 12:36  Atualizado: 11/03/2009 12:36
Membro de honra
Usuário desde: 09/05/2008
Localidade: Carregado-Alenquer
Mensagens: 11253
 Re: Excertos de um diário
Muito emocionante...fiquei sem palavras.

Beijos

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/03/2009 14:13  Atualizado: 11/03/2009 14:13
 Re: Excertos de um diário
Como eu te entendo minha querida! estou sensibilizada e sabes porquê - já passei por essa dor que é única -, e hoje ao ler-te revi-me nestas tuas memórias e recordações do passado, que teimosamente quer queiramos quer não, estarão sempre presentes no nosso coração, até ao fim das nossas vidas.MÃE há só uma...
Um grande beijinho

(Et)