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Viagem

 
Viagem

Comecei a minha viagem pelo sul.
Descobri dez cristais adornados por um vermelho vivo.
Aí passeei algum tempo e rumei a norte.
Subi por superfícies macias e tão lisas que quase me fizeram escorregar.
Encontrei então uma densa floresta onde me perdi por longos momentos,
Explorando todo o fantástico que encerrava em si.
Bosque encantado,
Floresta dos mil prazeres!
Vislumbrei uma ávida abertura rodeada de vegetação cintilante,
Aproximei-me um pouco, trémulo pela incerteza do incerto,
Mas decidi-me a entrar,
A conhecer tamanha paisagem que me intrigava o goto.
Descobri um ténue caminho que me levou a uma clareira de vermelho em chamas...
Eterno fogo momentâneo.
O calor abrasador fez-me suar, perder os sentidos,
Viajar por uma seara de cores quentes que findou num salto para o infinito...
Para o vazio!...
E perdi os sentidos novamente!...
Quando acordei dei comigo fora da gruta mirabolante,
Que, momentos antes, me tinha transportado até aos limites da metafísica!
Percorri novamente a floresta para norte até que a vegetação acabou,
abrindo-me uma região árida e escaldante.
Deserto fumegante!
Achei-me dentro dum socalco não muito profundo...
Dir-se-ia que aí teria caído um meteorito que tinha toldado o solo como se se tratasse de um lago...
Vagueei sempre no sentido ascendente em direcção às sinuosas montanhas que se erguiam majestosamente à minha frente...
A sua altura era demais exacerbada e dei comigo a caminhar a passos largos para atingir o seu cume.
Depois de me ter recostado e descansado no cimo da montanha onde curiosamente não fazia frio – talvez porque era coberto por um círculo aveludado cor de café - deixei-me deslizar como se fosse um escorrega,
Qual duna enorme que ousamos escorregar!
Cheguei então ao ponto principal da minha viagem:
Esse pedestal com duas esmeraldas simétricas cravadas logo por cima de dois pequenos orifícios, por onde saíam lufadas de ar a um ritmo compassado.
Por baixo, havia ainda um orifício maior que, aberto, mostrava pedras de um tom madrepérola que me enfeitiçaram o olhar.
Mergulhei, onde lutei com um ser vermelho, viscoso e quente que queria cobrir todo o meu ser com os seus movimentos oblíquos!...
Passei horas nesta luta desenfreada até que finalmente consegui sair deste oráculo fervilhante...
A minha viagem já estava a findar e agora apenas teria que descer deste lugar paradisíaco pelas lianas que envolviam todo este trono onde tinha passado os últimos minutos.
Estava feliz quando finalmente desci empoleirado em belas lianas de tons acastanhados...
Agora que já tinha chegado ao fim da viagem fechei os olhos e adormeci...


Era a terceira vez naquela noite que viajava pelo teu corpo.

 
Autor
Hugo_Pinto
 
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