Sonetos : 

CEM SONETOS DE AMOR

 

Soneto XLI

Desdichas del mes de Enero cuando el indiferente
mediodía establece su ecuación en el cielo,
un oro duro como el vino de una copa colmada
llena la tierra hasta sus límites azules.
Desdichas de este tiempo parecidas a uvas
pequeñas que agruparon verde amargo,
confusas, escondidas lágrimas de los días
hasta que la intemperie publicó sus racimos.
Sí, gérmenes, dolores, todo lo que palpita
aterrado, a la luz crepitante de Enero,
madurará, arderá como ardieron los frutos.
Divididos serán los pesares: el alma
dará un golpe de viento, y la morada
quedará limpia con el pan fresco en la mesa.


Soneto XLII

Radiantes días balanceados por el agua marina,
concentrados como el interior de una piedra amarilla
cuyo esplendor de miel no derribó el desorden:
preservó su pureza de rectángulo.
Crepita, sí, la hora como fuego o abejas
y es verde la tarea de sumergirse en hojas,
hasta que hacia la altura es el follaje
un mundo centelleante que se apaga y susurra.
Sed del fuego, abrasadora multitud del estío
que construye un Edén con unas cuantas hojas,
porque la tierra de rostro oscuro no quiere sufrimientos
sino frescura o fuego, agua o pan para todos,
y nada debería dividir a los hombres
sino el sol o la noche, la luna o las espigas.


Pablo Neruda
( 12/07/1904 — 23/09/1973)
Autores Clássicos no Luso-Poemas

Soneto XLI



DESVENTURAS do mês de janeiro quando o indiferente

meio-dia estabelece sua equação no céu,

um ouro duro como o vinho de uma taça repleta

satura a terra até seus limites azuis.



Desventuras deste tempo semelhantes a uvas

pequenas que agruparam verde amargo,

confusas, escondidas lágrimas dos dias,

até que a intempérie publicou seus cachos.



Sim, germes, dores, tudo o que palpita

aterrado, á luz crepitante de janeiro,

madurará, arderá como ardem os frutos.



Divididos serão os pesares: a alma

dará um golpe de vento, e a morada

ficará limpa como o pão novo na mesa.

..............................................
Radiantes dias balançados pela água marinha,
concentrados como o interior de uma pedra amarela
cujo esplendor de mel não derrubou a desordem:
preservou sua pureza de retângulo.

Crepita, sim, a hora como fogo ou abelhas
e é verde a tarefa de submergir em folhas,
até que para a altura é a folhagem
um mundo cintilante que se apaga e sussurra.

Sede do fogo, abrasadora multidão do estio
que constrói um Éden com algumas quantas folhas,
porque a terra de rosto escuro não quer sofrimentos,

mas frescor ou fogo, água ou pão para todos,
e nada deverá dividir os homens
senão o sol ou a noite, a lua ou as espigas.
 
Autor
Pablo Neruda
 
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